domingo, 28 de outubro de 2012

O Mito de Pandora e suas Variáveis Interpretativas

O símbolo dos desejos que causam a desgraça humana

(feminilidade e beleza, curiosidade, vingança e discórdia, inconsequência e desejo ardente)



Para os Gregos, os deuses eram descendentes da terra - Gaia - e do céu - Urano - e tinham grandes semelhanças com os homens. Havia um lugar para a morada dos deuses, o Monte Olimpo, reconhecido como sendo o ponto mais alto de toda a Grécia Antiga (com uma altitude de 2 917 m.), destinado à casa dos deuses mais importantes. Segundo conta a literatura e a história, a entrada para o Olimpo era feita através de um portão coberto de nuvens; isso, talvez, pudesse ser atribuído ao fato de que o cume da montanha, devido a sua altitude, permanecesse constantemente sob nuvens.

Há várias versões sobre o mito de Pandora e este parece ter sido um tema que a muitos seduziu e, ainda hoje, seduz. Porém, simbolicamente, o mito está impregnado de muitas interpretações, tornando-o, assim, difícil para uma única análise em função de sua história estar ligada à hierarquia dos deuses.

Mas vamos à história. Uma tentativa de compreender de forma reduzida as várias versões sobre o mito grego, no qual Prometeu está diretamente envolvido. Aliás, Prometeu, segundo a etimologia, é: (o que vê antes ou prudente, previdente) e representa o criador da humanidade. Pertencia à genealogia de um dos Titãs, filho de Jápeto e Clímene e também irmão de Epimeteu (o que vê depois, inconsequente), Atlas e Menécio. Os dois últimos se uniram a Cronos na batalha dos Titãs contra os deuses olímpicos e, por terem fracassado, foram castigados por Zeus que então tornou-se o maior de todos os deuses.

A caixa de Pandora é uma expressão muito utilizada quando se quer fazer referência a algo que gera curiosidade, mas que é melhor não ser revelado ou estudado, sob pena de se vir a mostrar algo terrível, que possa fugir de controle. Esta expressão vem do mito grego, que conta sobre a caixa que foi enviada com Pandora a Epimeteu. Pandora foi enviada a Epimeteu, irmão de Prometeu, como um presente de Zeus. Prometeu, antes de ser condenado a ficar 30.000 anos acorrentado no Monte Cáucaso, tendo seu fígado comido pelo abutre Éton todos os dias, alertou o irmão quanto ao perigo de se aceitar presentes de Zeus.

Prometeu uniu-se a Zeus e recomendou que seu irmão Epimeteu também o fizesse. Com isso, Prometeu foi aumentando os seus talentos e conhecimentos, o que despertou a ira de Zeus, que resolveu acabar com a humanidade, mas a pedido de Prometeu,  protetor dos homens, não o fez. Um dia, foi oferecido um touro em sacrifício e coube a Prometeu decidir quais partes caberiam aos homens e quais partes caberiam aos deuses. Assim, Prometeu matou o touro e com o couro fez dois sacos. Em um colocou as carnes e no outro os ossos e a gordura. Ao oferecer a Zeus  para que escolhesse um dos dois sacos, este escolheu o que continha banha. Por causa deste ato, Zeus puniu Prometeu retirando o fogo dos humanos.

Assim, coube a Epimeteu distribuir aos seres qualidades para que pudessem sobreviver. Para alguns deu velocidade, a outros força, a outros ainda deu asas. No entanto, Epimeteu, que não sabe medir as conseqüências de seus atos, não deixou nenhuma qualidade para os humanos, que ficaram desprotegidos e sem recursos. Foi então que Prometeu entrou no Olimpo (o monte onde residiam os deuses) e roubou uma centelha de fogo para entregar aos homens. O fogo representava a inteligência para construir moradas, defesas e, a partir disso, forçar a criação de leis para a vida em comum. Surge assim a política para que os homens vivam coletivamente, se defendam de feras e inimigos externos, bem como desenvolvam todas as técnicas.

Diante do acontecido, Zeus jurou vingança e pediu para que o deus coxo Hefestos, fizesse uma mulher de argila e que os quatro ventos lhe soprassem a vida. Determinou,  também, que todas as deusas do olimpo deveriam enfeitar essa mulher, que era Pandora (pan = todos, dora = presente) a primeira e mais bela mulher já criada e que foi dada, como estratégia de vingança a Epimeteu, que, alertado por seu irmão, recusou respeitosamente o presente. Zeus, ficou mais furioso e acorrentou Prometeu a um monte e lhe impôs um castigo doloroso, em que uma ave de rapina devoraria seu fígado durante o dia e, à noite, o fígado cresceria novamente para que no outro dia fosse outra vez devorado, e assim por toda eternidade.

No entanto, para disfarçar sua crueldade, Zeus espalhou um boato de que Prometeu tinha sido convidado ao Olimpo, por Atena, para um caso de amor secreto. Com isso, Epimeteu, temendo o destino de seu irmão, casou-se com Pandora que, ao abrir a caixa enviada como presente (a qual Prometeu já havia alertado para não fazê-lo), espalhou todas as desgraças sobre a humanidade (o trabalho, a velhice, a doença, as pragas, os vícios, a mentira, etc.), restando dentro dela somente a ilusória Esperança.

O que é a caixa de Pandora? É um mito grego que narra a chegada da primeira mulher à Terra e, com ela, a origem de todas as tragédias humanas. Essa história chegou até nós por meio da obra Os Trabalhos e os Dias, do poeta grego Hesíodo, que viveu no século VIII a.C..

Se o mito de Pandora simboliza a origem de todos os males da humanidade, segundo a lenda o homem recebeu os benefícios do fogo, contra a vontade dos deuses, e os malefícios da mulher, contra a sua vontade. A mulher é o preço do fogo. (CHEVALIER,1998). Ou seja, o fogo também simboliza o amor que todo humano deseja, mesmo que sofra em função dele.

Portanto, o mito da caixa de Pandora quer significar a ambivalência do fogo e seu imenso poder sobre o homem, tal como a imprudência que é atribuída aos humanos, assim como a consequência de sua falta de conhecimento e previsão. Desse modo, a curiosidade não deve predominar sobre a própria inteligência: o homem deve ser o agente de sua própria história e não ficar ao sabor da sorte ou das intempéries do destino.

A literatura moderna, assim como a Poesia, também conta uma história

Na literatura moderna, ao longo dos séculos, vários autores retomaram a história de Prometeu e o colocaram como figura que representa a vontade humana por conhecimento (mesmo tendo que passar por cima dos deuses). A captura do fogo representou a busca do conhecimento pela ciência. Dentre alguns desses autores, encontramos o alemão e poeta romântico Goethe que escreveu um pequeno poema de oito estrofes sobre a lenda de Prometeu intitulado de Prometheus (1774) do qual segue-se um trecho:

"Encobre o teu Céu ó Zeus
com nebuloso véu e,
semelhante ao jovem que gosta
de recolher cardos
retira-te para os altos do carvalho ereto
Mas deixa que eu desfrute a Terra,
que é minha, tanto quanto esta cabana
que habito e que não é obra tua
e também minha lareira que,
quando arde, sua labareda me doura.
Tu me invejas!
(...)
Eu honrar a ti? Por quê?
Livraste a carga do abatido?
Enxugaste por acaso a lágrima do triste?
(...)
Por acaso imaginaste, num delírio,
que eu iria odiar a vida e retirar-me para o ermo
por alguns dos meus sonhos se haverem
frustrado?
Pois não: aqui me tens
e homens farei segundo minha própria imagem:
homens que logo serão meus iguais
que irão padecer e chorar, gozar e sofrer
e, mesmo que sejam parias,
não se renderão a ti como eu fiz"

Goethe descreve Prometeu como um homem extraordinário, que se nega a venerar os deuses e, como ato de rebeldia, se prontifica a fazer homens segundo à própria imagem que não precisem venerar os deuses. O poeta metaforiza em sua poesia a rebeldia dos deuses com a sua criação de vida. O tema sugere repensar a sociedade pós-moderna para os dias atuais.



Fonte:
Hesíodo. Os Trabalhos e os Dias São Paulo: Iluminuras, 1990.
CHEVALIER, Jean e Alain GHEERBRANT. Dicionário de Símbolos. José Olympio, Rio de janeiro, 1988.

http://super.abril.com.br/superarquivo/2002/conteudo_120628.shtml