O símbolo dos desejos que causam a desgraça humana
(feminilidade e beleza, curiosidade, vingança e discórdia, inconsequência e desejo ardente)
Para os Gregos, os deuses eram descendentes da
terra - Gaia - e do céu - Urano - e tinham grandes semelhanças com os homens. Havia
um lugar para a morada dos deuses, o Monte
Olimpo, reconhecido como sendo o ponto mais alto de toda a Grécia Antiga (com
uma altitude de 2 917 m .),
destinado à casa dos deuses mais importantes. Segundo conta a literatura e a
história, a entrada para o Olimpo era feita através de um portão coberto de
nuvens; isso, talvez, pudesse ser atribuído ao fato de que o cume da montanha,
devido a sua altitude, permanecesse constantemente sob nuvens.
Há várias versões sobre o mito de Pandora e este
parece ter sido um tema que a muitos seduziu e, ainda hoje, seduz. Porém, simbolicamente,
o mito está impregnado de muitas interpretações, tornando-o, assim, difícil
para uma única análise em função de sua história estar ligada à hierarquia dos
deuses.
Mas vamos à história. Uma tentativa de
compreender de forma reduzida as várias versões sobre o mito grego, no qual
Prometeu está diretamente envolvido. Aliás, Prometeu, segundo a etimologia, é: (o que vê antes ou prudente, previdente) e representa o criador da
humanidade. Pertencia à genealogia de um dos Titãs, filho de Jápeto e Clímene e
também irmão de Epimeteu (o que vê depois, inconsequente), Atlas e
Menécio. Os dois últimos se uniram a Cronos na batalha dos Titãs contra os
deuses olímpicos e, por terem fracassado, foram castigados por Zeus que então
tornou-se o maior de todos os deuses.
A caixa de Pandora é uma expressão muito
utilizada quando se quer fazer referência a algo que gera curiosidade, mas que é
melhor não ser revelado ou estudado, sob pena de se vir a mostrar algo
terrível, que possa fugir de controle. Esta expressão vem do mito grego, que
conta sobre a caixa que foi enviada com Pandora a Epimeteu. Pandora foi enviada
a Epimeteu, irmão de Prometeu, como um presente de Zeus. Prometeu, antes de ser
condenado a ficar 30.000 anos acorrentado no Monte Cáucaso, tendo seu fígado
comido pelo abutre Éton todos os dias, alertou o irmão quanto ao perigo de se
aceitar presentes de Zeus.
Prometeu uniu-se a Zeus e recomendou que seu
irmão Epimeteu também o fizesse. Com isso, Prometeu foi aumentando os seus
talentos e conhecimentos, o que despertou a ira de Zeus, que resolveu acabar
com a humanidade, mas a pedido de Prometeu, protetor dos homens, não o fez. Um dia, foi
oferecido um touro em sacrifício e coube a Prometeu decidir quais partes
caberiam aos homens e quais partes caberiam aos deuses. Assim, Prometeu matou o
touro e com o couro fez dois sacos. Em um colocou as carnes e no outro os ossos
e a gordura. Ao oferecer a Zeus para que
escolhesse um dos dois sacos, este escolheu o que continha banha. Por causa deste
ato, Zeus puniu Prometeu retirando o fogo dos humanos.
Assim, coube a Epimeteu distribuir aos seres
qualidades para que pudessem sobreviver. Para alguns deu velocidade, a outros
força, a outros ainda deu asas. No entanto, Epimeteu, que não sabe medir as conseqüências de seus atos, não deixou
nenhuma qualidade para os humanos, que ficaram desprotegidos e sem recursos. Foi
então que Prometeu entrou no Olimpo (o monte onde residiam os deuses) e roubou
uma centelha de fogo para entregar aos homens. O fogo representava a
inteligência para construir moradas, defesas e, a partir disso, forçar a
criação de leis para a vida em
comum. Surge assim a política para que os homens vivam
coletivamente, se defendam de feras e inimigos externos, bem como desenvolvam
todas as técnicas.
Diante do acontecido, Zeus jurou vingança e pediu
para que o deus coxo Hefestos, fizesse uma mulher de argila e que os quatro
ventos lhe soprassem a vida. Determinou, também, que todas as deusas do olimpo deveriam
enfeitar essa mulher, que era Pandora (pan = todos, dora = presente) a primeira
e mais bela mulher já criada e que foi dada, como estratégia de vingança a
Epimeteu, que, alertado por seu irmão, recusou respeitosamente o presente. Zeus,
ficou mais furioso e acorrentou Prometeu a um monte e lhe impôs um castigo
doloroso, em que uma ave de rapina devoraria seu fígado durante o dia e, à
noite, o fígado cresceria novamente para que no outro dia fosse outra vez
devorado, e assim por toda eternidade.
No entanto, para disfarçar sua crueldade, Zeus
espalhou um boato de que Prometeu tinha sido convidado ao Olimpo, por Atena,
para um caso de amor secreto. Com isso, Epimeteu, temendo o destino de seu
irmão, casou-se com Pandora que, ao abrir a caixa enviada como presente (a qual
Prometeu já havia alertado para não fazê-lo), espalhou todas as desgraças sobre
a humanidade (o trabalho, a velhice, a doença, as pragas, os vícios, a mentira,
etc.), restando dentro dela somente a ilusória Esperança.
O que é a caixa de Pandora? É um
mito grego que narra a chegada da primeira mulher à Terra e, com ela, a origem
de todas as tragédias humanas. Essa história chegou até nós por meio da obra Os Trabalhos e os Dias, do poeta grego
Hesíodo, que viveu no século VIII a.C..
Se o mito de Pandora simboliza a origem de todos
os males da humanidade, segundo a lenda o homem recebeu os benefícios do fogo,
contra a vontade dos deuses, e os malefícios da mulher, contra a sua vontade. A
mulher é o preço do fogo. (CHEVALIER,1998). Ou seja, o fogo também simboliza o
amor que todo humano deseja, mesmo que sofra em função dele.
Portanto, o mito da caixa de Pandora quer
significar a ambivalência do fogo e seu imenso poder sobre o homem, tal como a
imprudência que é atribuída aos humanos, assim como a consequência de sua falta
de conhecimento e previsão. Desse modo, a curiosidade não deve predominar sobre
a própria inteligência: o homem deve ser o agente de sua própria história e não
ficar ao sabor da sorte ou das intempéries do destino.
A
literatura moderna, assim como a Poesia, também conta uma história
Na
literatura moderna, ao longo dos séculos, vários autores retomaram a história
de Prometeu e o colocaram como figura que representa a vontade humana por conhecimento (mesmo tendo que passar por
cima dos deuses). A captura do fogo
representou a busca do conhecimento pela ciência. Dentre alguns desses autores,
encontramos o alemão e poeta romântico Goethe que escreveu um pequeno poema de oito estrofes
sobre a lenda de Prometeu intitulado de Prometheus (1774)
do qual segue-se um trecho:
"Encobre o teu Céu ó Zeus
com nebuloso véu e,
semelhante ao jovem que gosta
de recolher cardos
retira-te para os altos do carvalho ereto
Mas deixa que eu desfrute a Terra,
que é minha, tanto quanto esta cabana
que habito e que não é obra tua
e também minha lareira que,
quando arde, sua labareda me doura.
Tu me invejas!
(...)
Eu honrar a ti? Por quê?
Livraste a carga do abatido?
Enxugaste por acaso a lágrima do triste?
(...)
Por acaso imaginaste, num delírio,
que eu iria odiar a vida e retirar-me para o ermo
por alguns dos meus sonhos se haverem
frustrado?
Pois não: aqui me tens
e homens farei segundo minha própria imagem:
homens que logo serão meus iguais
que irão padecer e chorar, gozar e sofrer
e, mesmo que sejam parias,
não se renderão a ti como eu fiz"
Goethe
descreve Prometeu como um homem extraordinário, que se nega a venerar os deuses
e, como ato de rebeldia, se prontifica a fazer homens segundo à própria imagem
que não precisem venerar os deuses. O poeta metaforiza em sua poesia a rebeldia
dos deuses com a sua criação de vida. O tema sugere repensar a sociedade pós-moderna
para os dias atuais.
Fonte:
Hesíodo. Os Trabalhos e os
Dias São Paulo: Iluminuras, 1990.
CHEVALIER, Jean e Alain GHEERBRANT. Dicionário de Símbolos. José Olympio,
Rio de janeiro, 1988.
http://super.abril.com.br/superarquivo/2002/conteudo_120628.shtml