quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Os Ipês contam histórias

Gosto muito de ler e, do mesmo modo, gosto outro tanto de escrever. Por isso mesmo, ouso apresentar aos meus amigos que também gostam de ler uma pequena história sobre uma das mais belas árvores do Brasil: o exuberante Ipê.

O ipê é uma árvore do gênero Tabebuia (Tabebuia chrysotricha) pertencente à família das Bignoniáceas que pode ser encontrada por todo o Brasil. Os índios usavam essa madeira para fazer bodoques e arcos, aproveitando-se da peculiar elasticidade e da firmeza que a madeira oferece.  Assim, justifica-se um de seus nomes populares:  Pau-d’arco. Esta árvore de grande beleza vem sendo apreciada tanto pela excelente qualidade de sua madeira, quanto por seus efeitos ornamentais e decorativos, além de ser reconhecida pela farmacopéia popular e botânica por seus efeitos medicinais.

 Com toda a grandiosidade de suas qualidades, o Ipê seduziu escritores e provocou olhares de encantamentos. Desse modo, ficou imortalizado nas páginas de José de Alencar, Machado de Assis, Castro Alves, Bernardo Guimarães entre outros e tantas outras lendas. José de Alencar, além de dar o título a um de seus grandes romances: O Tronco do Ipê; em O Guarani, atribuiu a força do Ipê a sua narrativa ao dizer: “O velho Aymoré vacilou; seu braço que vibrava o tacape com uma força hercúlea, caiu inerte; o corpo abateu-se como o Ipê da floresta cortado pelo raio.” Continua Alencar em sua obra Ubirajara: “O grande chefe ergue a sua fronte soberba como o velho Ipê da floresta coroado de flores.” E em Machado de Assis,  na  obra Americanas, lê-se: “Um desfolhado ipê conserva e guarda / Flores que lhe ficaram de outro estio, / Como esperança de folhagem nova,/ Flores que a desventura lhe há negado,”. Em Bernardo Guimarães, no conto Pão de Ouro, encontra-se: É o truculento Ipê, que como um cacique todos os anos se enfeita de um diadema de flores amarela, diadema efêmero e irrisório, que no outro dia o vento lhe arranca da fronte e roja pelo chão.”

Muitos pesquisadores destacam o Ipê naquilo que ele tem de mais simbólico, além de beleza e flores: seu poder de acalentar, alegrar, agregar e curar. O pesquisador mineiro, Breno Marques, em seu Livro As Essências Florais de Minas – Síntese para uma medicina de almas, afirma que (...) A Tabebuia, que tem uma forte analogia sonora com Aleluia ou “Tábua-boa”, é uma “tábua de Salvação” que pode ajudar aquele solitário que, mesmo estando imerso nas águas bravias da dor e do sofrimento, pode resistir infinitamente por honra e glória do Criador. Diz, ainda, que a planta (...) associa os conceitos de sincronização temporal e de força, sendo portanto uma poderosa “lente” concentradora de energia solar, disponível naqueles momentos exatos de máxima necessidade. Arremata destacando que (...) O Ipê realiza arquetipicamente um princípio oculto, que foi captado e bem expresso por Vitor Hugo, que diz assim: “Não há nada mais forte que uma idéia quando chega o momento exato de sua realização.

  Nota-se que o nosso Folclore Brasileiro está recheado de fábulas, lendas, mitos com seus distintos e instigantes temas. Assim, dentro desse cenário, incluem-se os vários “causos” contados sobre o Ipê com uma infinidade de histórias interessantes, as quais nem todas fazem parte de um único gênero. Como bem se pode notar, entre os autores aqui citados, estão os variados estilos desde a medicina com seu cartesianismo exemplar à medicina vibracional, cedendo lugar às falácias populares até à literatura contemporânea. Por isso, retornemos ao criador do sistema dos Florais de Minas, Breno Marques, que foi um dos professores que mais me impressionaram durante suas aulas de  física quântica entre outras de igual importância, pela maneira descontraída de prender à atenção de seus alunos com momentos de descontração e com o seu jeito “mineiro” de contar histórias. De tudo que já pude ler e ouvir sobre as plantas e de toda trajetória de histórias vivenciadas como aluna e professora, uma se tornou especial, aquela que fora contada por Breno Marques e que nunca mais saiu de minha mente. O resumo dessa história retoma em minha memória um certo conceito de nozado, não pelos rituais que acontecem nos velórios, muito menos pela peculiar narrativa da palavra “soia”. Mas sim, pela fluidez semântica que faz a história ganhar um significado mais que simbólico de força vital e de esperança, que vai muito além da fenomenologia de uma simples etimologia contida no radical do nome da planta. O Ipê consagrou-se com seus pressupostos sedutores de energia, graça e beleza e, nele se pode ver uma atmosfera mágica que transborda qualquer conceito lingüístico, ao transcender olhares e às diferentes formas do dizer. Diante exposto, vamos ao causo:

Conta-se um “causo” que lá pelas bandas do interior das Minas Gerais, morreu uma véia (velha) e, então, chamaram o povo para animar o velório, com direito a pinga, comidinhas, bebedinhas e tudo mais, até um sanfoneiro... Tudo seria normal, não fosse o episódio que aconteceu: de repente, a veia que estava morta, se senta no caixão, e foi um Deus nos acuda... um corre – corre assustador, a porta ficou estreita, diante dos tantos que teimavam em fugir do fantasma vivo da véia. Com algum custo, aqueles poucos que ali ficaram, procuraram retirar a velha do caixão e colocá-la na cama. Porém, não demorou muito e a veia morreu de novo. E, assim, entre o morre-e-desmorre, lá pelas tantas, diante da estranha sucessão dos fatos resolveu-se chamar o homem que fez o caixão, e então perguntou-se:  
 Acaso o cumpade Izé não esqueceu algum prego puntudo dentro do caixão?! As veiz tá cutucando a cumade... num tá deixando ela sussegada lá dentro!? Antes de colocarem a véia novamente... vistoriaram todo o caixão por dentro... esquadrinharam tudo... várias mãos... e nada... não havia pregos pra desvendar o mistério do morre-desmorre sem fim... Foi quando o cumpadre Joaquim iluminou-se com a seguinte solução: já sei... o cumpade Izé feiz errado... num pode fazê caixão de Ipê!... O Ipê é tão forte que não deixa ninguém morrê!...
                     Assim, o Ipê conta sua história. E esta é apenas mais uma entre tantas outras com seu pseudo poder, segredo e graciosidade que a natureza nos oferece. Basta observarmos. Há bem pouco tempo, eu voltava da Barra da Tijuca em direção à Zona Sul e passando por São Conrado, um vislumbre...bem a minha frente, lá no alto na Rocinha, um Ipê também inspirou-me numa das crônicas do meu livro: O Rio e seus relevos díspares , onde se lê que “Um novo cenário  veste a imaginação e  empresta aos olhos, apenas aquilo que se pode ver. – Um velho Ipê amarelo resiste com sua doutrina.  A planta carrega em sua lenda o mito de uma velha  sabedoria que é fazer a vida renascer e florescer.”

Diante do exposto, releio o tempo presente  em função do passado e, assim, tristemente, estabeleço uma relação com o futuro que se aproxima, vislumbrando os Montes e Serras do Vale do Paraíba que continuam lá, porém, sem a floresta dos Ipês coloridos. Aproveito o instante deste escrito para renascer das lembranças e convidá-los a cantarmos juntos com o inesquecível Geraldo Vandré: “Pra não dizer que não falei de flores”. Agora, sigo caminhando e cantando os Ipês com suas flores e cores, com seus tons rosáceos, lilases, brancos e amarelos: todos servindo de ponte às boas lembranças da vida.

Se o texto que, ora lhes está sendo oferecido, pode, nessa breve reflexão, ser compreendido para além de sua expressão metafórica, naquilo que José Enes classifica como noético, (estrutura energética da faculdade intelectiva), então o Ipê já terá exercido uma de suas (máximas) a maior de todas as missões: levar a Luz da esperança a quem dela necessitar.  Descortinei lembranças de antigos campos, relembrei os prados verdejantes e as brincadeiras de esconde – esconde;  reavivei as tintas do passado através da memória dos Ipês e, de lá, trago um presente para você, leitor: um Ipê! A cor, você escolhe:



Rosa, é a cor do plexo cardíaco, trabalha o Amor incondicional e o sistema imunológico. Desenvolve os aspectos sensíveis da glândula Timo, está diretamente relacionado ao coração, melhora a arritmia cardíaca e o sistema circulatório, brônquios e o aparelho respiratório;

  
Branco, esta cor induz à pureza, à limpeza e é o símbolo da Paz;
 


Lilás, tem ligação direta com as energias superiores, trabalha a glândula Pineal nas disfunções das neuroses, irracionalidades, fobias, desorientação e obsessão, além das disfunções sensoriais e cerebrais, bem como a insônia, enxaqueca e histeria;

 


Amarelo é a cor do plexo solar e é também a cor do intelecto. Trabalha as funções da Personalidade, vitalidade, ação e vontade, auto-estima, melhorando a ansiedade, a indecisão e a desconfiança. Trabalha os sistemas nervoso e pancreático: o baço, estômago, fígado, vesícula, intestino delgado e parte inferior das costas.




   
Fonte:

SANTANA, Vannda. O avesso e o reverso na ponta da pena. Oficina Editores, 2ª Ed. RJ, 2007, p.83;

SILVA, Breno Marques da.  As essências florais de Minas: síntese para uma medicina de almas, Breno Marques da Silva  e Ednamara Vasconcelos e Marques. 2ª Ed. São Paulo, editora Aquariana, 1997;
Criatividade e Espiritualidade seguindo os passos de " A Profecia Celestina" - Dr. Breno Marques da Silva e Ednamara Batista Vasconcelos e Marques.

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