sexta-feira, 8 de março de 2013

O destino da educação na contramão da história: do obscurantismo medievo ao terrorismo da negação do saber feminino

Hoje, bem distante da Idade Média, ainda se vive uma caça as bruxas às avessas. Refiro-me à educação como um direito humano universal perante a Lei que promove e garante a democracia fundamentada na legalidade constitucional. A saber, esta legalidade não se limita ao gênero, pois é um direito de todos os cidadãos. Porém, do obscurantismo medieval até o momento presente, um hiato se estabelece contra o destino da educação que mais parece um clichê na contramão da história. Assim temos o caso de Malala Yousafzai que “não desejou o impossível”, a menina quis apenas praticar e desenvolver suas habilidades intelectivas para o que apenas desejava ser e ter: conhecimentos para enfrentar os inimigos segregadores dos saberes culturais. A jovem, com sua sapiência de uma quase criança, procurou nutrir-se de uma responsabilidade maior que a de seu próprio tempo e não tão menor que a de sua cultura. Malala toma para si a causa política da educação das meninas e foi em busca de mudanças que pudessem tornar possível tal realidade: ter o direito de ir para escola onde então vivia e experienciou armazenar conhecimentos para lutar contra o futuro imaginário da educação de seus iguais. A paquistanesa alcançava a visão de mundo e conseguia ver para além de seu tempo. Agindo desse modo, Malala prometia enfrentar os terroristas talibãs, uma facção fanática que não reconhece o direito das mulheres à prática do conhecimento escolar. Malala queria dar um basta ao absurdo do direito negado ao estudo das meninas. Quis ela fazer ver que essa forma já não cabe num mundo desenvolvido, no mundo de hoje, do século 21, onde o universo se comunica com todas as áreas do saber humano. O recado da jovem menina ressoou de forma ameaçadora ao mundo terrorista, despertando o ódio. Assim, o que se pensa (mesmo distante da Idade Média) pode permanecer na mente de um povo, no obscurantismo de classes e pessoas, constituindo-se no mais terrível dos crimes contra a mulher: impedi-la de ter a sua formação escolar. A jovem Malala foi vítima de um atentado contra o saber e o fizeram de forma cruel, covarde, que quase lhe tirou a vida. E isto aconteceu porque a menina é uma ativista que ousou escrever um blog para a BBC sob o nome de Gul Makai, explicando a situação em que viviam ela e sua família, diante do regime do Tehrik-i-Taliban Pakistan (TTP) e as tentativas de recuperar o controle do vale após a ocupação militar que obrigou-os a ir para as áreas rurais. Diante de tais acontecimentos, Malala põe em prática uma de suas “armas”: a palavra a serviço da ação. Em seus escritos, nota-se a presença de uma consciência política de cidadã responsável ao declarar os feitos de poder do Taliban pelo fechamento de escolas particulares e a proibição da educação de meninas entre 2003 e 2009. Nesse blog, Malala revelou as circunstâncias em que viviam as meninas de sua pequena Mingora, Swat, Jaiber Pastunjuá, Paquistão, uma revelação política, mas com consciência e, sobretudo, como cidadã engajada na causa da educação. Talvez coubesse aqui algumas perguntas: por onde anda a cabeça dos grandes governantes em relação ao destino da educação de um povo “marginalizado pela sorte” além de vulnerável às mãos de criminosos terroristas? O New York Times resume quem é a paquistanesa que aos 14 anos se tornou ícone do direito à educação feminina e do sofrimento cotidiano vivido por mulheres no Vale do Swat, na fronteira montanhosa e tribal entre Paquistão e Afeganistão. Mas a pergunta segue a pauta quebrando o silêncio de muitos: onde está a força do mundo globalizado que tem “olhos” mas não pode ver porque suas armas não são as mesmas que o inimigo possui? Por outro lado, se são muito menos poderosas, o que fazer se só possuímos palavras tais como as de Malala? E o que fazer quando o mundo nos oferece uma estrada virtual feita de palavras e com palavras que falam e conduzem o pensamento aonde quer que queiramos ir? Então eis a pergunta: como proteger as Malalas de nossas casas, de nossas vidas, de nossos irmãos, se só possuímos palavras? Se não ousarmos o direito que a palavra nos confere, não sairemos do lugar comum. Não sei se disse tudo que gostaria de dizer, mas o que disse eu sei bem a quem atingir: eu e todas as Malalas do mundo vamos continuar a praticar o exercício do direito da palavra, do direito da expressão, do direito de usar a fala como ferramenta de prazer para denunciar os abusos e absurdos contra qualquer forma de preconceito. Aqui fica o meu registro a favor do saber e da educação de todo ser humano, principalmente, o das mulheres de todo o mundo. Malala exerceu o direto da palavra e assim saiu do anonimato com o seu "Diário de uma estudante paquistanesa”: venceu o medo, enfrentou a morte, virou ícone. Mas sua vida vale muito mais e é através das palavras que queremos conferir nossa indignação aos atos de violência contra a mulher. Esta é a minha palavra de hoje: não à violência que tenta impedir a mulher de ser e ter as qualidades de um saber mais que específico.