A arte é a fada que
transmuta e transfigura o mau destino.
(Manuel Bandeira)
Por: Vannda Santana
Revisão: Marcia Vital
Revisão: Marcia Vital
Depressão e falta de ânimo
Depressão
e falta de ânimo são palavras sintomáticas e são respostas de ações vividas sobre
as pressões expostas pelo cotidiano. Diante de tais estados, somos obrigados a
definir o que realmente é importante em nossa vida. Que significado estamos
buscando para nossa existência – devemos lutar contra o desânimo? – se não
quisermos continuar sofrendo. A resposta para tais atitudes deverá partir de
uma decisão importante: a sua própria. Se queremos viver deprimidos e
estressados ou eleger uma outra forma de olhar a vida. Inicialmente, o estado
depressivo funciona como um sinal de alerta, de que algo está acontecendo de
errado e que precisamos mudar a forma de agir e de pensar. Portanto,
acredita-se que alimentar o ânimo de viver com atividades variadas, buscar
motivos que assegurem maior importância ao bem-estar físico e emocional, seria
um indicativo para que possamos atingir aquilo que pensamos ser qualidade de
vida. A arteterapia, entre tantas outras práticas clínicas, oferece um eficaz
instrumento de ajuda que auxilia os mecanismos humanos a evitar consequências psíquicas
e físicas, assim como os sérios riscos que poderiam afetar nossa saúde psíquica.
Classificação hipotética dos vários estados da depressão
No quadro de Van
Gogh, a depressão se apresenta reproduzida com tintas, cores e gestos e, nos
gestos, um traço de total solidão. A
Depressão que tem sido íntima de
artistas e poetas, desde tempos imemoriais, somente começou a receber a devida
importância pela medicina a partir das últimas décadas. Nos anos de 1950 a 1960, a doença foi dividida
em dois tipos: endógeno e neurótico. Endógena significa que a depressão vem de
dentro do corpo, talvez de origem genética ou pode surgir do nada. A neurótica
ou reativa tem um fator ambiental de precipitação como a morte de um dos
cônjuges ou a perda de alguma coisa significativa: um bichinho de estimação,
emprego, amizades e daí por diante. Nos anos de 1970 a 1980, o foco de
atenção passou da causa da depressão aos seus efeitos sobre as pessoas
atingidas. Isso quer dizer que qualquer que fosse a causa de um caso
particular, os sintomas e as funções prejudicadas passariam a ser tratados por
especialistas que se propusessem a concordar e diagnosticar como sendo um
transtorno depressivo. O DSM-IV exemplifica
as várias causas da depressão e afirma ser necessário o acompanhamento médico,
assegurando não se tratar de uma sintomatologia banal, embora ainda hoje existam
alguns argumentos distintos como em todos os ramos da medicina. Tendo sido vítima
de uma antiga visão dicotômica e parcial sobre o ser humano, em que as doenças
físicas eram separadas das alterações emocionais, os transtornos depressivos
permaneceram, por muitos anos, à margem dos avanços neurocientíficos. Bem mais
tarde e, gradativamente, esta visão foi sendo modificada e ampliada. Esse
reconhecimento ganhou um novo olhar sobre a depressão. A partir daí, aderiu-se a
um novo conceito no qual passou-se a reconhecer a mente e o corpo não mais como
entidades separadas, mas, sim, como componentes de um ser humano que deve ser
contemplado em toda a sua complexidade. Desse modo, os sintomas somáticos
(corporais) são considerados como frequentes em até 94% dos pacientes
deprimidos, podendo afetar todos os sistemas do corpo, gerando alterações e disfunções
gastrintestinais, cardiológicas, dermatológicas, sexuais e até as mais complexas
como as neuroendocrinológicas, vistas, hoje, como comuns. O estado depressivo passou
a ser definido por uma alteração persistente do humor, diminuição do prazer nas
atividades cotidianas, alterações de sono e apetite e outras alterações, tais
como fatigabilidade aumentada, delineando-se em um perfil multifacetado:
sensação de vazio,
de tristeza, de desânimo e de falta de sentidos na vida, um conjunto de
elementos negativos irão contribuir para a baixa da autoestima do indivíduo e
irão afetar, diretamente, o sistema imunológico.
Por isso mesmo, é muito importante buscar
auxílio, tratamento terapêutico ou psiquiátrico, o quanto antes para evitar o
prolongamento da doença. O acolhimento familiar também é muito significativo,
pois favorece a melhora psíquica. Além do stress emocional, há o stress físico
que pode comprometer o indivíduo em quadros de pressão alta; favorecendo ao
corpo manter-se num verdadeiro estado de contraturas musculares, o que, sem
dúvida, poderia contribuir para um enfarte do miocárdio ou, até mesmo, levar o
indivíduo ao suicídio.
E se não tivesse o amor?
E se não tivesse essa dor?
E se não tivesse o sofrer?
E se não tivesse o chorar?
(Caetano Veloso, It’s a long way)
Buscando ajuda à recuperação
A
melhor forma de tratar a depressão seria, em primeiro lugar, buscar ajuda
psiquiátrica. E a partir daí, buscar um suporte psicoterapêutico. A arteterapia
é sem dúvida, um grande aliado de cura. Não há uma receita mágica que livre o
indivíduo de tais desajustes de uma hora para outra. A depressão é um
transtorno que passa pela mudança de humor no qual uma pessoa tem pensamentos
de extrema tristeza, desesperança, chegando, às vezes, ao desespero, e esses
sentimentos costumam interferir na vida diária, como trabalhar, comer ou
dormir. Portanto, cuidar em buscar alegrias
verdadeiras, juntamente com uma ocupação saudável são algumas indicações que
amenizam e podem oferecer caminhos para futuras soluções. Ainda assim, não se
garante que se possa estar livre de qualquer sintoma derivado de um stress,
porém o que se sabe é que esse agente tão agressor vem afetando grande parte da
população contemporânea, causando vários transtornos sociais, assumindo uma
espécie de mal do século pela forma como as pessoas são atingidas em sua
dinâmica de vida. Leandro A. T. Tavares, autor de A Depressão como “Mal-Estar” Contemporâneo, fez jus à temática que
deu origem ao nome de seu livro, vale consultá-lo.
Aliados de prevenção
Acredito
no bom senso, no otimismo, no controle das emoções e na capacidade para refletir
sobre as adversidades. Em outras palavras, a prevenção envolve, em primeiro
lugar, a autoestima e, logo em seguida, uma predisposição para querer fazer algo; algo que sirva como estímulo,
algo que acelere os processos de resiliência. De acordo com esse critério, a autoestima induz ao saber viver com resiliência, sobretudo, buscando nutrir
o sentido de esperança e acreditar
em dias melhores. Vamos explicar uma a uma.
A AUTOESTIMA é uma experiência íntima na qual o próprio indivíduo se vê envolvido ou pela falta ou pelo excesso. É o que ele sente a respeito e no entorno de si mesmo. Exemplificando: é um sentimento que nem todos estarão aptos a vivenciar face às atribuladas exigências cotidianas. A autoestima tem uma ligação direta com o sistema imunológico e com a consciência. Desse modo, a autoestima precisa ser estimulada para produzir a autoconfiança e, por assim dizer, levar o sujeito a confiar nas próprias idéias (autoeficiência), acreditar mais e saber-se merecedor da felicidade com (auto respeito).
RESILIÊNCIA significa ser flexível, se autoajudar para voltar ao estado natural o mais rápido possível, buscando algo que possa fazê-lo levantar, sair da inércia, sacudir a poeira e dar a volta por cima (Paulo Vanzolini). Resiliente é aquele que consegue reconhecer a dor, encontrar um sentido e suportá-la até que seja possível resolver o problema de uma forma positiva. Ser resiliente é buscar o reequilíbrio, enfrentando as circunstâncias com sabedoria e consciência de seu estado. Assim entendido, pode-se considerar que a resiliência é uma combinação de fatores que propiciam ao ser humano condições para esse enfrentamento em busca da superação dos problemas e das adversidades. Há ainda uma outra palavra a ser analisada em seu contexto, trata-se do estímulo que demanda à Esperança e que sem esse precioso aliado, torna-se mais difícil sair do quadro depressivo, onde a doença impera.
A ESPERANÇA também nos sugere ajuda, ou seja, alguma ação que nos remeta para a ajuda. O professor e psicólogo C.R. Snyder (1994) nos apresenta uma nova abordagem para o conceito de esperança. O autor referido fala que a esperança seria uma forma para se encontrar novos caminhos, seria um novo rumo frente aos objetivos desejados. Desse modo, podemos dizer que a maior contribuição da Teoria da Esperança de Snyder é salientar o aspecto cognitivo, ou seja, o foco no processo de crenças e pensamentos envolvidos na esperança. O aspecto emocional será contemplado paralelamente e a esperança contribuirá naturalmente para o fluxo das emoções positivas, de bem estar e de felicidade. Afirmo que, em qualquer situação, onde haja a desesperança, há que se rever as nossas vontades de buscar meios para que se possam atingir resultados positivos: onde há vontade há meios! O autor citado nos diz que temos de investir na esperança para que possamos encontrar caminhos alternativos na eventualidade de obstáculos.
De que forma a Arteterapia pode ir ao
encontro dessas necessidades
Como funciona a arteterapia e o que o arterapeuta pode
oferecer? A arteterapia se destina a qualquer pessoa, independente do estado e
do sintoma apresentado, quer seja físico ou psíquico. A arte é o instrumento de
facilitação e libertação de expressões. Seus mecanismos simbólicos oferecem o ajuste
das emoções psíquicas. Os instrumentos utilizados na prática do setting da
oficina, apresentam variados tipos de materiais: papel, lápis de cor, colagem,
cacoterapia, argila, batik, pintura em tecido, técnicas de cobertura em
madeiras, confecção de peças de adorno para recriar representações visuais de
pensamentos e sentimentos. A Arteterapia pode ser usada como atividade
individual ou grupal. Os critérios arteterapêuticos usados através desses
processos criativos simbólicos promovem
ações facilitadoras para o equilíbrio emocional.
Importante: a arteterapia não busca fazer um artista; não
requer nehuma habilidade artística; a arteterapia não impõe nem induz nenhuma
atividade técnica; ela apenas utiliza-se dos materiais da arte para facilitar e
transformar o sujeito em seus bloqueios. A Arteterapia com
seus mecanismos expressivos explora as emoções e os pensamentos profundos,
procurando resgatá-los e libertá-los do abismo dos padrões negativos
recorrentes. Esses intensos sentimentos, às vezes, se tornam imensamente dolorosos, impedindo
que o indivíduo avance em seus projetos de vida. O arteterapeuta oferece
efetiva orientação, apoio e oportunidade.
Bem,
de qualquer modo, sempre que houver um problema em nossa vida, teremos de agir,
de tomar decisões adequadas e conscientes, pois, ainda que estejamos
frágeis, é mais que um dever tornar nossa
vida significativa e compensadora. Desse modo, para que possamos realizar esses
eventos, principalmente, quando estivermos nos sentindo desmotivados, será muito
necessário buscar ajuda de terapeutas e acreditar que sempre haverá uma luz no
final do túnel. Pense nisso!
Fonte:
Pesquisa: 16/12/13 às 17h.
A.Beck & Brad A. Aford. Depressão Causas e Tratamento. 2ª Edição, Editora Artmed, 2011
Tavares, Leandro A, Todesqui. A Depressão como “Mal-Estar” Contemporâneo. Editora UNESP
DSM – IV – TR. MANUAL
DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS. Editora Artmed, 4ª edição.
Porto Alegre, 2002.