domingo, 27 de abril de 2014

Brasil: Miragem e realidade



Texto: Vannda Santana

Revisão: Marcia Vital


 
 

A Casa e o sonho de ser um brasileiro cosmopolita num país sem "ORDEM" e sem "PROGRESSO".

Mesa desarrumada, papéis soltos, embaralhados, assuntos empilhados sem solução.  Assim, meio perdida nesse universo restrito, restrinjo o grito de uma agonia implícita, de onde ouço e sinto, inerte, nada poder fazer contra o vírus que se propaga, principalmente, no cenário do poder público, causando na consciência nacional um distúrbio generalizado, gerando em todos nós uma banal descrença. O mau desempenho do poder público é uma espécie de câncer à brasileira que vai se degenerando e formando, visivelmente, uma massa intocável dos chamados defensores do sistema. Estes senhores, células corrompidas do governo, cuidam apenas em se proteger para continuar cada vez mais “fortes”; para corromper cada vez mais; para vender a qualquer preço as nossas riquezas. 

A metáfora da casa tem como objetivo sinalizar a desordem que invadiu nossos lares literalmente. Penso que para todo mal há sempre uma cura, mas, no caso do Brasil, assisto ao descontrole de um país que não é levado a sério; não sei onde, nem como encontrar solução. Meio desiludida com os políticos de um modo geral, desconfiada e sem ver uma luz no final do túnel, acho que este “tumor cancerígeno” há de explodir a qualquer momento.  O poder público adquiriu e coletivizou um ego doentio de governantes desajustados, de  epidêmicas reações e de discursos vazios. Não há como desviar o alvo desse foco inflamado segregado há séculos. Parece-nos coerente nos fazer ouvir em nossos descontentamentos, mas não basta um BASTA a toda e qualquer espécie de sorte e farsa. Temos de reunir forças para resuscitar o Brasil que se encontra armado contra o povo que está anestesiado, acreditando num Messias que possa vir nos salvar.

 Acorde Brasil! Saia desse terrível pesadelo! Levante-se e venha suscitar no povo novas esperanças, nos faça crer na raça e na força destemida dos brasileiros, aqueles mesmos que torcem cegamente pelo futebol. Penso num governo justo que não ameace o nosso futuro.  Mas o que fazer para despertá-lo se os interesses políticos já estão todos comprometidos? Falcatruas viraram manchetes comuns na ordem do dia. A imprensa empresta sua voz e desvela a sujeira escondida debaixo dos panos, mas ainda assim a verdade é distorcida e as autoridades só a usam para favorecer os senhores do poder.

Chegou a hora de uma nova esperança - futura. Mas que diabo de esperança é essa que chega o futuro e nada de esperança? E todos pagam para ver;  e veem que o hoje é sempre hoje sem amanhã; e o amanhã está no ventre do ontem para nascer. A fotografia da história empresta-nos sempre a mesma cara.

Na alquimia dos meus sonhos, sonhei a venturosa casa brasileira onde, com bases firmes, a dignidade pudesse ser erguida como construção do caráter social do país. Porém, entristeço-me em saber que essa "casa" não possui sequer alicerce; ruíram-se todas as bases de conduta moral. Não acreditamos mais no alarido de discursos vazios que põem em cheque a tão sonhada democracia. Queremos uma democracia autêntica que não se contamine pelo mortal vírus da desordem maligna. O legislar em causa própria faz parte de uma ideologia falida que hoje tem sido o real objetivo daqueles a quem elegemos para nos representar.

Tenho a impressão de que tudo ficou lá atrás nos registros de um ufanismo vivido pelos idos do início do século XX. Hoje, apenas o sonho é o que sobrou para rebater tanta insatisfação diante do que vemos acontecer.

 Será que Lima Barreto tinha razão quando falava de um amor à Pátria? Assim como ele eu também acreditava. Tanto que escrevi esta crônica pensando oferecer qualquer coisa que pudesse mudar o rumo dessa história. Mas tal como Lima Barreto, em que sua crença o conduziu à  loucura, acho que devo estar trilhando o mesmo caminho por não encontrar eco na honestidade dos governantes deste pais.  O perfil dessa história política não deveria perfilar nas linhas que escrevo; mas se o faço não é por mero prazer; nem acredito que seja meu dever desvelar fatos que aniquilam a consciência do povo de um modo geral. Como escritora obrigo-me a denunciar nesta crônica os abusos que os Senhores do Brasil estão fazendo com a nação inteira; sentindo-se os próprios donos do povo, amordaçando nossas consciências.

Num turbilhão de desconstrução moral, a civilização moderna aderiu “comodamente” à máquina produtora de crimes e com ela ao sistema organizado de corrupção. Basta ligar a TV e pronto, o pacote vem completo! Nem precisamos sair de casa. Pela porta da frente entra o mal sem pedir licença.

Hoje, assistimos ao horror e à violência urbana tomar conta de ruas e  cidades na tela do dia-a-dia. Falam em bairros, comunidades, favelas; em melhorar a vida desses menos favorecidos, mas o que se veem são flagelos humanos espalhados em fatias de caixas de papelão por calçadas e praças públicas das cidades brasileiras.

  Denunciar fatos como esses relatados não dá ibope. Mas penso que em cada um de nós, cidadãos brasileiros, habitam também retalhos desses  trapos acinzentados, não como poética de um estado sintomático, nem como semântica da realidade  com a qual todos nós estamos envolvidos,  mas falo impulsionada  pela voz da certeza de que o morro ainda vai ter vez.

Aquilo que nossos olhos e ouvidos alcançam, dentro e fora de nossas casas,  nos deforma e nos transforma em marginais, espectadores de nossa própria desgraça silenciada. E isto não se escreve em um só livro. Mas tudo isto se inscreve em nossa consciência abarrotada de indecisão, desconfiança e tristeza, no mesmo instante em que se instalam no coração do mundo as mais vis destruições dos chamados valores morais. A sorte e o destino de milhões de brasileiros estão aqui nesta crônica, juntamente comigo, emparedados, aprisionados por uma liberdade chamada democracia que só se vê inscrita no papel.

Lamentavelmente, esse é o cenário de nossa brasilidade, cheio de violências e de corruptos, de personagens comuns estampados nas manchetes de nossos jornais. Hoje, ninguém se assusta mais em ter que se desviar de um corpo morto, caído na esquina de sua casa.  Quanta permissividade, quanta injustiça, quanta indiferença e  quanta impunidade, banalizando a vida! De tudo que sobrou do caráter político-social dos governos atuais nos resta a pergunta: quo vadis?