quarta-feira, 10 de maio de 2017

A Doença como Caminho


A Doença Como Caminho
Uma Visão Nova da Cura como Ponto de Mutação em que um Mal se deixa transformar em Bem

Bem e Mal. Um poder latente envolve todos os mundos, todas as criaturas, o bem e o mal. E esse poder é a verdadeira Unidade. Como ele pode abrigar dentro de si os opostos do bem e do mal? Na verdade não existe paradoxo nessa afirmação, pois o mal serve de trono para o bem.
(Baal Schem Tow)

Uma releitura:
Este é um livro que  nos leva a pensar na leitura como se fosse um “antídoto”, e através dele, uma lição de como entender a doença para não adoecermos. Os autores nos mostram “um caminho” para detectar o significado mais profundo das doenças. Eles partem do princípio de que todo sintoma é um alerta da alma para uma carência essencial. No final do livro, há uma espécie de glossário que nos oferece uma compreensão sobre os diversos sintomas clínicos e este é o clímax do livro – uma listagem desses sintomas é elencada – nos permitindo a oportunidade de conhecer esse novo caminho para nos aproximar de nós mesmos diante do autoconhecimento. Não se trata de um manual de autoajuda. O livro é sem dúvida uma releitura de nós mesmos e das doenças e sua expressão simbólica, pois aqui são analisados e interpretados como formas de manifestação dos problemas psíquicos (p.7)[1].

Sem mais questionamentos. Não há dúvidas de que a saúde é o nosso bem mais precioso. Por essa razão, buscamos o nosso bem estar físico e emocional, procurando compreender qual o sentido da doença em nossas vidas. Sendo assim, não basta entender o que se passa em nosso organismo se não nos propusermos a ouvir os sinais do próprio corpo. A epígrafe nos alerta para esse poder latente presente em todo mundo, e esta afirmação, dotada de um tom filosófico e maniqueísta, destaca-se por uma abordagem contextual sobre a lei dos opostos, referindo-se à polaridade e aos aspectos da mesma unidade. Diante  dessa ótica, em que o mal serve de trono para o bem, é visível que vamos nos confrontar com a nossa sombra já que o bem vive do mal e o mal do bem. Entretanto, decidir sobre o que é certo ou errado é uma questão de bom senso e lógica. Entretanto, sabemos que conviver com a nossa sombra não é nada fácil. Talvez, por questões de ética e moralidade nos venha ao pensamento que talvez fosse melhor eliminá-la sempre que ela vier à tona. Este pensamento, guarda sem dúvida, uma convicção com os nossos princípios morais além do rigor sobre os conceitos adquiridos. 

Para os autores – o psicólogo Thorwald Dethlefsen e o médico Rüdiger Dahlke – não existem “doenças”, mas sim, uma única doença ligada inseparavelmente à “imperfeição” humana, e que se revela através de diferentes sintomas. A Doença como Caminho destina-se às pessoas que estão preparadas para abandonar as noções tradicionais sobre doenças e buscam analisar mais profundamente a verdadeira natureza das mesmas: (Texto da contracapa do livro)[2]

Este texto é uma síntese que aponta para a necessidade de um olhar atento sobre a vida. A Doença Como Caminho não nos redime dos erros, tanto menos, opera milagres. Mas nos aponta para uma visão honesta da observação constante sobre o nosso existir e assim nos conduz a um novo modo de olhar à vida. Desse modo, acredito que esta recomendação tem como objetivo atingir nosso “eu” superior de forma mais consciente para se repensar nossa história, ao mesmo tempo em que oportuniza se conhecer o mal no processo de transmutação para o bem. Por entender que todos aqueles que buscam por uma melhor qualidade de vida, estarão buscando também alcançar o equilíbrio de uma boa saúde. Agindo assim, podemos compreender as trajetórias e os revezes de algumas etiologias, que por vezes nos afetam diretamente nos fazendo adoecer sem “ouvir” o alerta dos sintomas.   O livro oferece um questionamento para se descobrir o que está fora do equilíbrio e dessa forma entender a diferença entre lutar contra a doença e transmutar a doença. O processo de tal abordagem, fundamenta-se em conteúdos psíquicos e sintomáticos e os assuntos aqui abordados não nos causam  frustrações, mas sim, uma curiosa vontade de entender o sistema adotado que relaciona a doença como caminho.





 Pois bem, o aprendizado sobre a saúde e a doença nos faz rever conceitos: mas o que é Saúde e o que é Doença? De acordo com o dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, afirma ser  Saúde um "Estado daquele cujas funções orgânicas, físicas e mentais se acham em situação normal" (Ferreira, p.286) e a Doença: "falta ou perturbação da saúde"  (Ferreira, p.116). Dessa maneira, temos de usar o sintoma como um professor que nos orienta a entender a disciplina do desenvolvimento para nos tornarmos cada vez mais conscientes de nós mesmos.

De acordo com o que acabamos de observar, podemos relatar que a correlação apontada pelos autores nas diferentes funções do organismo humano é excludente. Entretanto, o que se pode constatar é que ambas (saúde e doença) guardam entre si uma interação que se dá de forma "normal" e neste caso, a resposta estaria no equilíbrio: se há harmonia no sistema emocional, mental e físico, então, temos saúde. Acredita-se que esta situação normal é adequada a cada ser humano e de forma individual, correspondendo àquela em que haveria o equilíbrio entre todas as suas funções orgânicas. Portanto, seria normal a negação da “sombra” de forma inconsciente. E anormal seria aceitar conscientemente que temos alguma doença e, seja ela qual for, não sabemos o que fazer com o processo psicossomático. É nesse ápice da questão, que devemos buscar a compreensão dos fatos ainda que eles nos pareçam complexos: 

Desde a época de Hipócrates, a medicina acadêmica vem tentando convencer os pacientes de que um sintoma é um fenômeno mais ou menos acidental, cuja origem deve ser procurada nos processos mecânicos do organismo. Desde então, todos estão empenhados na pesquisa desses processos. A medicina acadêmica evita cuidadosamente interpretar o sintoma, e assim condenar o sintoma e a doença ao exílio da ausência de significado. Com isso, o sinal perde sua verdadeira função: os sintomas transformam-se em sinais sem significados (p.15 -16).[3]

A partir do momento em que se instala um desequilíbrio no ser humano, por causas variadas que podem ser físicas ou acidentais, mental ou emocional ou ainda pelas repressões da infância, com as grandes perdas, automaticamente começam a surgir  os "sintomas" expressos de diferentes formas e em diferentes funções, pois o corpo, a mente e as emoções estão aí interligados num todo. Assim, por exemplo, os sintomas podem ser a soma dos fatores psicossomáticos e vir a se manifestar até mesmo por uma grande tristeza, decorrente de uma perda qualquer e, portanto, desencadear várias causas emocionais. Desse modo, perceber que os sintomas que combatemos podem ser nossos maiores aliados, na medida em que são como um “grito”  do nosso corpo nos chamando à atenção para algo muito maior que não vai bem. E esse desequilíbrio mais profundo deve ser tratado e corrigido. Às vezes, uma simples dor de cabeça, ou um estado febril nos mostra que algo não vai bem. Mas o que quer dizer este sinal? A cura pressupõe a compreensão desse TODO. Portanto, dar um passo em busca da “consciência” para descobrirmos onde foi que nos desviamos de nós mesmos, eis a questão; esse é o sinal; essa é a seta que indica e aponta o caminho da existência para ser feliz. A consequência não deve ser entendida como resposta final do mal, mas sim, como princípio de que algo não estará bem se não buscarmos a causa que continua presente no sintoma. Penso então, ser meu corpo o palácio de todas as coisas que nele se interagem e que de dentro de mim “falam” e convivem nessa semiótica de sentidos.

Penso não ser nada fácil tirar conclusões e pareceres sobre um estado de  fragilidades gerados por uma doença grave. Mas sei também que não há uma receita pronta para atenuar dúvidas. Porém, afirmo a certeza de que há diferentes modos de comportamentos que podem nos indicar caminhos de esperanças. E é isto, às vezes, que nos basta como antídoto: a esperança.

E não é por acaso que a história da Medicina se funde com a História do Homem. Pois, desde os tempos mais antigos, o homem busca a Cura das suas doenças e também não é por acaso que a Grécia antiga foi o berço dos deuses mitológicos e seus grandes mestres de cura como célebres filósofos. Como em todas as civilizações milenares os antigos buscavam, nos mitos, as respostas às suas indagações sobre as mais variadas questões e como não poderia deixar de ser, sobre a saúde, a doença e a cura. Os filósofos gregos nortearam todo o pensamento ocidental, portanto a medicina ocidental, e a influência deles em todas as áreas podem ser observadas até hoje. A palavra “cura” vem do centauro mitológico grego – Chiron, meio homem e meio animal, um semideus, filho do deus Cronos (deus do Tempo). Chiron foi ferido em sua anca por Hércules – ferida incurável e dolorosa, que lhe permitiu ter o conhecimento da dor e tudo que a ela se relacionava. Recebeu de Zeus, seu irmão, também filho de Cronos, a imortalidade, mas, como imortal, sua ferida incurável e sua dor nunca seriam exterminadas, então trocou sua imortalidade com o titã Prometeu que tinha o dom do Fogo. O Fogo tem o simbolismo da luz, do conhecimento, da consciência. Prometeu trouxe aos Homens, então, o autoconhecimento, a “consciência” e Chiron trouxe o conhecimento do corpo e da dor.

Neste pequeno recado temos uma grande lição: sermos mais conscientes com a vida que herdamos da divindade.






[1] A Doença como Caminho – Thorwald Dethlefsem & Rüdiger Dalke. Ed. Cultrix, São Paulo, 1999
[2] Idem
[3] Idem