Uma Visão Nova da Cura como Ponto
de Mutação em que um Mal se deixa transformar em Bem
(Baal Schem
Tow)
Uma releitura:
Este é um livro que nos leva a pensar na leitura como se fosse um
“antídoto”, e através dele, uma lição de como entender a doença para não adoecermos.
Os autores nos mostram “um caminho” para detectar o significado mais profundo
das doenças. Eles partem do princípio de que todo sintoma é um alerta da alma
para uma carência essencial. No final do livro, há uma espécie de glossário que
nos oferece uma compreensão sobre os diversos sintomas clínicos e este é o
clímax do livro – uma listagem desses sintomas é elencada – nos permitindo a
oportunidade de conhecer esse novo caminho para nos aproximar de nós mesmos
diante do autoconhecimento. Não se trata de um manual de autoajuda. O livro é
sem dúvida uma releitura de nós mesmos e
das doenças e sua expressão simbólica, pois aqui são analisados e interpretados como formas de manifestação dos
problemas psíquicos (p.7)[1].
Sem mais
questionamentos. Não há dúvidas de que a saúde é o nosso bem mais precioso. Por
essa razão, buscamos o nosso bem estar físico e emocional, procurando compreender
qual o sentido da doença em nossas vidas. Sendo assim, não basta entender o que
se passa em nosso organismo se não nos propusermos a ouvir os sinais do próprio
corpo. A epígrafe nos alerta para esse poder latente presente em todo mundo, e esta
afirmação, dotada de um tom filosófico e maniqueísta, destaca-se por uma
abordagem contextual sobre a lei dos opostos, referindo-se à polaridade e aos aspectos
da mesma unidade. Diante dessa ótica, em
que o mal serve de trono para o bem,
é visível que vamos nos confrontar com a nossa sombra já que o bem vive do mal
e o mal do bem. Entretanto, decidir sobre o que é certo ou errado é uma questão
de bom senso e lógica. Entretanto, sabemos que conviver com a nossa sombra não
é nada fácil. Talvez, por questões de ética e moralidade nos venha ao
pensamento que talvez fosse melhor eliminá-la sempre que ela vier à tona. Este
pensamento, guarda sem dúvida, uma convicção com os nossos princípios morais
além do rigor sobre os conceitos adquiridos.
Para os autores –
o psicólogo Thorwald Dethlefsen e o médico Rüdiger Dahlke – não existem
“doenças”, mas sim, uma única doença ligada inseparavelmente à “imperfeição”
humana, e que se revela através de diferentes sintomas. A Doença como Caminho destina-se
às pessoas que estão preparadas para abandonar as noções tradicionais sobre
doenças e buscam analisar mais profundamente a verdadeira natureza das mesmas:
(Texto da contracapa do livro)[2]
Este texto é uma síntese que aponta
para a necessidade de um olhar atento sobre a vida. A Doença Como Caminho não nos redime dos erros, tanto menos, opera
milagres. Mas nos aponta para uma visão honesta da observação constante
sobre o nosso existir e assim nos conduz a um novo modo de olhar à
vida. Desse modo, acredito que esta recomendação tem como objetivo
atingir nosso “eu” superior de forma mais consciente para se repensar
nossa história, ao mesmo tempo em que oportuniza se conhecer o mal no processo
de transmutação para o bem. Por entender que todos aqueles que buscam por uma melhor qualidade de vida, estarão buscando
também alcançar o equilíbrio de uma boa saúde. Agindo assim, podemos compreender
as trajetórias e os revezes de algumas etiologias, que por vezes nos afetam diretamente
nos fazendo adoecer sem “ouvir” o alerta dos sintomas. O livro oferece um questionamento para se descobrir o
que está fora do equilíbrio e dessa forma entender a diferença entre lutar contra a doença e transmutar a doença. O
processo de tal abordagem, fundamenta-se em conteúdos psíquicos e
sintomáticos e os assuntos aqui abordados não nos causam frustrações, mas sim, uma curiosa vontade de
entender o sistema adotado que relaciona a
doença como caminho.
Pois bem, o aprendizado sobre a saúde e a doença
nos faz rever conceitos: mas o que é Saúde e o que é Doença? De acordo com o dicionário
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, afirma ser Saúde um "Estado daquele cujas funções
orgânicas, físicas e mentais se acham em situação normal" (Ferreira,
p.286) e a Doença: "falta ou perturbação da saúde"
(Ferreira, p.116). Dessa maneira, temos
de usar o sintoma como um professor que nos orienta a entender a disciplina do
desenvolvimento para nos tornarmos cada vez mais conscientes de nós mesmos.
De acordo com o
que acabamos de observar, podemos relatar que a correlação apontada pelos
autores nas diferentes funções do organismo humano é excludente. Entretanto, o
que se pode constatar é que ambas (saúde e doença) guardam entre si uma
interação que se dá de forma "normal" e neste caso, a resposta estaria
no equilíbrio: se há harmonia no sistema emocional, mental e físico, então,
temos saúde. Acredita-se que esta situação normal é adequada a cada ser humano e
de forma individual, correspondendo àquela em que haveria o equilíbrio entre
todas as suas funções orgânicas. Portanto, seria normal a negação da “sombra”
de forma inconsciente. E anormal seria aceitar conscientemente que temos alguma
doença e, seja ela qual for, não sabemos o que fazer com o processo psicossomático.
É nesse ápice da questão, que devemos buscar a compreensão dos fatos ainda que eles
nos pareçam complexos:
Desde a época de Hipócrates, a medicina acadêmica vem
tentando convencer os pacientes de que um sintoma é um fenômeno mais ou menos
acidental, cuja origem deve ser
procurada nos processos mecânicos do organismo. Desde então, todos estão
empenhados na pesquisa desses processos. A medicina acadêmica evita
cuidadosamente interpretar o sintoma,
e assim condenar o sintoma e a doença ao exílio da ausência de significado. Com
isso, o sinal perde sua verdadeira
função: os sintomas transformam-se em sinais sem significados (p.15 -16).[3]
A partir do
momento em que se instala um desequilíbrio no ser humano, por causas variadas
que podem ser físicas ou acidentais, mental ou emocional ou ainda pelas repressões
da infância, com as grandes perdas, automaticamente começam a surgir os "sintomas" expressos de
diferentes formas e em diferentes funções, pois o corpo, a mente e as emoções
estão aí interligados num todo. Assim, por exemplo, os sintomas podem ser a
soma dos fatores psicossomáticos e vir a se manifestar até mesmo por uma grande
tristeza, decorrente de uma perda qualquer e, portanto, desencadear várias
causas emocionais. Desse modo, perceber que os sintomas que combatemos podem
ser nossos maiores aliados, na medida em que são como um “grito” do nosso corpo nos chamando à atenção para
algo muito maior que não vai bem. E esse desequilíbrio mais profundo deve ser
tratado e corrigido. Às vezes, uma simples dor de cabeça, ou um estado febril
nos mostra que algo não vai bem. Mas o que quer dizer este sinal? A cura
pressupõe a compreensão desse TODO. Portanto, dar um passo em busca da
“consciência” para descobrirmos onde foi que nos desviamos de nós mesmos, eis a
questão; esse é o sinal; essa é a seta que indica e aponta o caminho da
existência para ser feliz. A consequência não deve ser entendida como resposta
final do mal, mas sim, como princípio de que algo não estará bem se não
buscarmos a causa que continua presente no sintoma. Penso então, ser meu corpo o palácio de todas as coisas que nele se
interagem e que de dentro de mim “falam” e convivem nessa semiótica de
sentidos.
Penso não ser nada
fácil tirar conclusões e pareceres sobre um estado de fragilidades gerados por uma doença grave.
Mas sei também que não há uma receita pronta para atenuar dúvidas. Porém,
afirmo a certeza de que há diferentes modos de comportamentos que podem nos
indicar caminhos de esperanças. E é isto, às vezes, que nos basta como antídoto:
a esperança.
E não é por acaso que a história da Medicina se funde com a História do
Homem. Pois, desde os tempos mais antigos, o homem busca a Cura das suas
doenças e também não é por acaso que a
Grécia antiga foi o berço dos deuses mitológicos e seus grandes mestres de cura
como célebres filósofos. Como em todas as civilizações milenares os antigos
buscavam, nos mitos, as respostas às suas indagações sobre as mais variadas
questões e como não poderia deixar de ser, sobre a saúde, a doença e a cura. Os
filósofos gregos nortearam todo o pensamento ocidental, portanto a medicina
ocidental, e a influência deles em todas as áreas podem ser observadas até
hoje. A palavra “cura” vem do centauro mitológico grego – Chiron, meio homem e
meio animal, um semideus, filho do deus Cronos (deus do Tempo). Chiron foi
ferido em sua anca por Hércules – ferida incurável e dolorosa, que lhe permitiu
ter o conhecimento da dor e tudo que
a ela se relacionava. Recebeu de Zeus, seu irmão, também filho de Cronos, a imortalidade,
mas, como imortal, sua ferida incurável e sua dor nunca seriam exterminadas,
então trocou sua imortalidade com o titã Prometeu que tinha o dom do Fogo. O
Fogo tem o simbolismo da luz, do conhecimento, da consciência. Prometeu trouxe
aos Homens, então, o autoconhecimento, a “consciência” e Chiron trouxe o
conhecimento do corpo e da dor.
Neste
pequeno recado temos uma grande lição: sermos mais conscientes com a vida que
herdamos da divindade.