segunda-feira, 26 de agosto de 2019


Porque você não consertou a cabeça do seu filho?



Pois é! Para muitos, esta é uma pergunta para a qual não há resposta. Eis aí uma temática que, talvez, permaneça em silêncio no limbo da memória dos tempos – até mesmo naquelas mentes mais brilhantes na esfera do conhecimento humano – essa resposta ficará ad aeternum em silêncio. Nenhum pai, por mais conhecedor que seja sobre um assunto específico, dará conta de resolver em lócus  (o problema de seu filho: principalmente, por razões éticas). Além do problema de ligação afetiva, presente na singularidade do existir, impera-se a responsabilidade. Diante dessa eminência de realidade que obrigue um pai ou mãe se colocar em evidência profissional, a experimentar suas certezas científicas, surge então a dúvida: crenças e incertezas colidem para anular qualquer gesto ou ação. Não surpreendem atitudes dessa natureza, dentro da frágil condição humana. Por definição, a  natureza tem seus métodos realizados de modo empírico;  eis aí o principal elemento que compõe a caixa preta da existência: viver a vida!

Por uma Lei sagrada, nascemos. Por princípios e por caminhos ínvios, caminhamos. Porém, ao nascermos, trazemos apenas um mapeamento genético. É bem verdade que, em muitos casos, esse mapeamento genético pode ajudar. Todavia, faltou um manual quântico que pudesse decifrar o sistema complexo, composto por células que se ligam universalmente umas com as outras – em todos os sentidos (interno e externo) – de informações e comunicações simultâneas, segundo o biólogo (LIPTON,  2007). Mas esse entrelaçamento celular de comunicação não nos dá a garantia de nos conhecer a nós mesmos. E não certifica qualidade para conhecer o outro! Dentro desse critério, a existência passa a oferecer uma leitura incógnita, a saber: cada ser é único, cada indivíduo é um livro que se abre às indagações, com mais perguntas que respostas. Dentro dessa imensa rede chamada VIDA, vive o ser humano em busca de se encontrar – e, nesse emaranhado, arrisca-se em trilhos e fios; por mares e rios; montanhas e vales – a fim de viver o inesperado daquilo que lhe é cabível.

Então, voltemos à pergunta: porque você não consertou a cabeça de seu filho?

Conheci médicos, professores, engenheiros, psicólogos, arquitetos e um acervo enorme de profissionais de várias áreas do saber científico, no entanto, a conceituação de tal pergunta, deriva para o processo de princípio analítico. A grande questão é: aquilo que foi previamente dito, e, depois longamente sinalizado,  pode vir a ser o sintoma, que, até certo ponto, nos parece  entendimento simples. Entretanto, nem todo sintoma se apresenta de forma clara e verdadeira com objetivos afirmativos. Obviamente, há casos específicos de comportamentos psíquicos. Há alguns casos que se revelam com um determinado sintoma e no decorrer do tratamento outros processos sintomáticos chamam à atenção do profissional ao perceber que se faz necessário aliar ao tratamento uma terapia de acompanhamento multidisciplinar e sistemático. Isto é, para dar clareza científica ao assunto e dissipar dúvidas comportamentais. Desse modo, não é fácil trabalhar questões e problemas que se apresentam sem amplo conhecimento de causas. Às vezes, essas causas estão  tão presentes nas estruturas da base familiar ancestral, e tantas outras, vivem na eternidade camuflada no seguimento desse novo ramo da ancestralidade do indivíduo. E são essas estruturas que irão formar ou deformar; são elas que indicarão o vetor do descontínuo de uma identidade, apontando para o ápice de uma fragilidade sem par.  Ao mesmo instante em que o indivíduo busca o ajuste da personalidade individual, ao lado dele encontra-se a  família extremamente remexida. O tratamento nem sempre é aceito pelo próprio indivíduo. Além disso, tem de haver comprometimento com a verdade dos fatos para bons resultados. E, sendo assim, na outra ponta, intermediando a situação, encontra-se o profissional atento à escuta. No caso em questão, conta-se também com os conhecimentos específicos, aliados à observação de um registro catalogado segundo os ditames dos anais do (DSM- Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) onde procura  manter bem atualizado os dados clínicos.  Mas ainda assim, surgirão infinitas dúvidas.

E a resposta para o tema? Para certas perguntas não há respostas. A repetição se faz necessária. Ainda que se procure na lógica dos fatos, algo pronto para satisfazer brios embaçados de egos altamente feridos, há que se rever caso a caso. Ainda assim, não se exclui o núcleo dessa célula mater – há uma mãe que é parte desse outro, e, por esse outro, essa mãe viverá ou morrerá – e,  há muitas outras mães sofrendo tanto quanto ou mais que a vítima desse episódio. Há uma cegueira visível cúmplice de aliados desejos egóicos em determinadas famílias, passando pela discriminação dentro da própria casa.

 E, por isso, há uma dor indescritível, indelével e, sem diagnóstico, afetando o ar e o riso, o corpo e a alma de MÃES de qualquer lar.

Portanto, não culpe o outro por algo que deu errado (seja um sintoma ou uma doença que se desconheça). Não coloque perguntas em lugar de respostas: pois tudo pode ainda ficar pior. Não se cobra acertos (pessoais) culpando gerações.  Não culpe uma Mãe por aquilo que seu filho deixou de atender aos olhos da sociedade. Não julgue para não ser julgado naquilo que é desconhecido. Por último, dê AMOR ao invés de culpar às (diferenças singulares). A maior falha humana está no modo de julgar  e, não  querer ver – que a maior virtude está no modo de perceber – de ver o belo que se apresenta em pequenos gestos.

Amar pode curar! Amei e amo sem recuar qualquer gesto de infinita doação! Amei sem prévio saber. Amei sentindo e amo sem discriminar. Amo o amor que surge do nada, que nasce do aprendizado de uma vida anunciada. Eis aí a minha forma de amar meus filhos: aceito com dignidade os erros e acertos, pois, o maior bem que vive em mim, nasceu  em meu peito quando eles de mim nasceram. Sinto a vida e o pulsar do poder de ter sido mãe e de ter oferecido mais do que tinha e o melhor que podia. Nessa entrega de mim mesma – me permiti ser alimento e – até  a minha alma cedi como abrigo daquilo que não dei conta.

Assim, diante do mais sagrado retorno à consciência, exalta-se na pele a humilde representação vincada por vivências – relevos e sulcos formam cicatrizes que ainda sangram – revelando a incompreensão (razão ignota) de reações espontâneas do que não deixei de ser ou de fazer. E com o passar dos tempos,  na certeza do dever cumprido, sobram apenas desgastes. Talvez, alguma pergunta ainda escape: o que me resta fazer? Será que errei mais e acertei menos ou ao contrário?  Em nome do  AMOR, fiz o que deveria. E a certeza desse sentimento virou recompensa. Hoje, posso comprovar na singeleza de cada olhar de um filho o amor despretensioso expresso em ternura. E isso basta!

Este escrito não pretende ser nenhum compêndio, ele quer sinalizar o vírus inserido na palavra. E a palavra pode ser capaz de exercer em sua língua mater  mil sentenças em uma só narrativa. Portanto, quando um desavisado  lhe enviar uma palavra de sentido culposo – devolva-a aos ventos – pois esta é a dor que seu corpo  desconhece.

Não ame alguém pela condição de ser! Ame sim, pelo SER que essa pessoa é. E diga não aos diagnósticos indefinidos. Confirma o SIM em nome do AMOR e pelo AMOR definitivo!.