Porque você não consertou a cabeça do seu filho?
Pois é! Para muitos, esta é uma pergunta para a qual não há
resposta. Eis aí uma temática que, talvez, permaneça em silêncio no limbo da
memória dos tempos – até mesmo naquelas mentes mais brilhantes na esfera do
conhecimento humano – essa resposta ficará ad aeternum em silêncio. Nenhum pai,
por mais conhecedor que seja sobre um assunto específico, dará conta de
resolver em lócus (o problema de seu
filho: principalmente, por razões éticas). Além do problema de ligação afetiva,
presente na singularidade do existir, impera-se a responsabilidade. Diante
dessa eminência de realidade que obrigue um pai ou mãe se colocar em evidência
profissional, a experimentar suas certezas científicas, surge então a dúvida:
crenças e incertezas colidem para anular qualquer gesto ou ação. Não surpreendem
atitudes dessa natureza, dentro da frágil condição humana. Por definição,
a natureza tem seus métodos realizados
de modo empírico; eis aí o principal elemento
que compõe a caixa preta da existência: viver a vida!
Por uma Lei sagrada, nascemos. Por princípios e por caminhos
ínvios, caminhamos. Porém, ao nascermos, trazemos apenas um mapeamento
genético. É bem verdade que, em muitos casos, esse mapeamento genético pode
ajudar. Todavia, faltou um manual quântico
que pudesse decifrar o sistema complexo, composto por células que se ligam
universalmente umas com as outras – em todos os sentidos (interno e externo) – de
informações e comunicações simultâneas, segundo o biólogo (LIPTON, 2007). Mas esse entrelaçamento celular de
comunicação não nos dá a garantia de nos conhecer a nós mesmos. E não certifica
qualidade para conhecer o outro! Dentro desse critério, a existência passa a
oferecer uma leitura incógnita, a saber: cada ser é único, cada indivíduo é um livro
que se abre às indagações, com mais perguntas que respostas. Dentro dessa imensa
rede chamada VIDA, vive o ser humano em busca de se encontrar – e, nesse
emaranhado, arrisca-se em trilhos e fios; por mares e rios; montanhas e vales –
a fim de viver o inesperado daquilo que lhe é cabível.
Então, voltemos à pergunta: porque você não consertou a cabeça de seu filho?
Conheci médicos, professores, engenheiros, psicólogos,
arquitetos e um acervo enorme de profissionais de várias áreas do saber científico, no entanto, a conceituação
de tal pergunta, deriva para o processo de princípio analítico. A grande
questão é: aquilo que foi previamente dito, e, depois longamente sinalizado, pode vir a ser o sintoma, que, até certo
ponto, nos parece entendimento simples.
Entretanto, nem todo sintoma se apresenta de forma clara e verdadeira com
objetivos afirmativos. Obviamente, há casos específicos de comportamentos
psíquicos. Há alguns casos que se revelam com um determinado sintoma e no
decorrer do tratamento outros processos sintomáticos chamam à atenção do
profissional ao perceber que se faz necessário aliar ao tratamento uma terapia
de acompanhamento multidisciplinar e sistemático. Isto é, para dar clareza
científica ao assunto e dissipar dúvidas comportamentais. Desse modo, não é
fácil trabalhar questões e problemas que se apresentam sem amplo conhecimento
de causas. Às vezes, essas causas estão tão presentes nas estruturas da base familiar ancestral,
e tantas outras, vivem na eternidade camuflada no seguimento desse novo ramo da
ancestralidade do indivíduo. E são essas estruturas que irão formar ou
deformar; são elas que indicarão o vetor do descontínuo de uma identidade,
apontando para o ápice de uma fragilidade sem par. Ao mesmo instante em que o indivíduo busca o ajuste
da personalidade individual, ao lado dele encontra-se a família extremamente remexida. O tratamento
nem sempre é aceito pelo próprio indivíduo. Além disso, tem de haver
comprometimento com a verdade dos fatos para bons resultados. E, sendo assim,
na outra ponta, intermediando a situação, encontra-se o profissional atento à escuta.
No caso em questão, conta-se também com os conhecimentos específicos, aliados à
observação de um registro catalogado segundo os ditames dos anais do (DSM-
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) onde procura manter bem atualizado os dados clínicos. Mas ainda assim, surgirão infinitas dúvidas.
E a resposta para o tema? Para certas perguntas não há respostas.
A repetição se faz necessária. Ainda que se procure na lógica dos fatos, algo pronto
para satisfazer brios embaçados de egos altamente feridos, há que se rever caso
a caso. Ainda assim, não se exclui o núcleo dessa célula mater – há uma mãe que é parte desse outro, e, por esse outro, essa
mãe viverá ou morrerá – e, há muitas outras
mães sofrendo tanto quanto ou mais
que a vítima desse episódio. Há uma cegueira
visível cúmplice de aliados desejos egóicos em determinadas famílias, passando
pela discriminação dentro da própria casa.
E, por isso, há uma dor indescritível, indelével e, sem
diagnóstico, afetando o ar e o riso, o corpo e a alma de MÃES de qualquer lar.
Portanto, não culpe o outro por algo que deu errado (seja um
sintoma ou uma doença que se desconheça). Não coloque perguntas em lugar de
respostas: pois tudo pode ainda ficar pior. Não se cobra acertos (pessoais)
culpando gerações. Não culpe uma Mãe por
aquilo que seu filho deixou de atender aos olhos da sociedade. Não julgue para
não ser julgado naquilo que é desconhecido. Por último, dê AMOR ao invés de
culpar às (diferenças singulares). A maior falha humana está no modo de julgar e, não querer ver – que a maior virtude está no modo de
perceber – de ver o belo que se apresenta em pequenos gestos.
Amar pode curar! Amei e amo sem recuar qualquer gesto de
infinita doação! Amei sem prévio saber. Amei sentindo e amo sem discriminar.
Amo o amor que surge do nada, que nasce do aprendizado de uma vida anunciada.
Eis aí a minha forma de amar meus filhos: aceito com dignidade os erros e
acertos, pois, o maior bem que vive em mim, nasceu em meu peito quando eles de mim nasceram.
Sinto a vida e o pulsar do poder de ter sido mãe e de ter oferecido mais do que
tinha e o melhor que podia. Nessa entrega de mim mesma – me permiti ser
alimento e – até a minha alma cedi como
abrigo daquilo que não dei conta.
Assim, diante do mais sagrado retorno à consciência,
exalta-se na pele a humilde representação vincada por vivências – relevos e
sulcos formam cicatrizes que ainda sangram – revelando a incompreensão (razão
ignota) de reações espontâneas do que não deixei de ser ou de fazer. E com o
passar dos tempos, na certeza do dever
cumprido, sobram apenas desgastes. Talvez, alguma pergunta ainda escape: o que
me resta fazer? Será que errei mais e acertei menos ou ao contrário? Em nome do AMOR, fiz o que deveria. E a certeza desse
sentimento virou recompensa. Hoje, posso comprovar na singeleza de cada olhar de
um filho o amor despretensioso expresso em ternura. E isso basta!
Este escrito não pretende ser nenhum compêndio, ele quer sinalizar
o vírus inserido na palavra. E a palavra pode ser capaz de exercer em sua
língua mater mil sentenças em uma só narrativa. Portanto,
quando um desavisado lhe enviar uma palavra
de sentido culposo – devolva-a aos ventos – pois esta é a dor que seu corpo desconhece.
Não ame alguém pela condição de ser! Ame sim, pelo SER que
essa pessoa é. E diga não aos diagnósticos indefinidos. Confirma o SIM em nome
do AMOR e pelo AMOR definitivo!.