PALAVRA
Por:
Vannda Santana
Revisão: Márcia Vital
...uma
palavra é sempre mais que uma palavra.
(Texto bíblico)
Novamente a palavra entra em cena e, no instante primeiro, por ela, sou
abduzida. Assim é a palavra: uma constelação de sentidos enredada num
entrelaçamento semântico inserido no contexto da linguagem. A palavra tem voz e
fala no escrito pelo silêncio da coisa dita. Há uma memória semântica que faz
com que a estada de uma palavra em uma frase a infle para sempre com um sentido
particular – contextual – de que ela não poderá se livrar (Ouaknin,1996).
Tal como uma rede de formas diversas e de sentidos múltiplos a palavra
memoriza aquele sentido naquele contexto
e para sempre estará memorizado, amplia e abre suas dimensões de funcionamento para
uma intertextualidade mais vasta: a palavra é
acontecimento na singularidade de sua aparição, aferindo expansão em ondas. Assim, a palavra toma para
si a tonalidade das outras palavras com total riqueza fônica, para formar (um
verdadeiro jogo) de infinitos sentidos de linguagem.
Diante de tamanho encantamento pela palavra e de suas infinitas formas
de dizer, murmura em minhas ideias o enunciado de um texto e a
intersubjetividade do diálogo que se oferece à interpretação. Pode até parecer
que é bem mais que um encantamento, sim, é isto. Mas há um ponto fundamental
à interpretação de um texto: ler é
compreender o que se esconde nas entrelinhas do pensamento escrito – e é
interpretar – sem destruir a mensagem definida no contexto do campo da
linguagem. Estes são os elementos necessários para abrir o diálogo.
A palavra reside no diálogo. A palavra habita no pensamento textual e
vive em expansão e quer “nascer”, quer vir à tona, mas a ideia rejeita, não
acata a dinâmica da mão que a escreve – e entre
o pensar e o agir o texto escrito
não é mais o texto pensado – é uma contradição de realidade com o objeto idealizado
que se faz plasmar na folha em branco. A criatividade transita nesse coexistir,
nesse limiar da consciência e anuncia-se
na contramão daquilo que o pensamento teve por objetivo em registrar mas
a mão não quis escrever. Quase sempre, há três poemas: um apenas imaginado, outro escrito e um outro lido. E a palavra desse instante nascida deveras, tem
significado no semear de sentidos por fertilizar palavras.
A paixão por palavras toma meu corpo inteiro e invade todo o meu ser. Desse encanto, surge um viajar
essencial por leituras e “letras” descortinando novas palavras que são como asas
de liberdade imaginária.
A palavra tem o poder de uma “senha” – e abre a porta de um vazio desconhecido
(de si mesmo) para atuar como agente de renúncia desse grau zero de
significações. O grau zero do sentido não
é nada além de um momento entre a des-significação e a re-significação. Ele é
uma tentativa de fazer com que a significação fracasse e, ao mesmo tempo, de
expor o próprio fundamento da significância. (Ouaknin, p. 164)
Ao concluir este artigo, senti uma enorme necessidade em refazer o caminho de volta, relendo a estreita
relação do texto escrito com o desejo antes imaginado. Pois é, alguma coisa havia
se perdido pelas entranhas do pensamento. A primeira ideia de escrever este
artigo sobre palavras, eu não sei em que labirinto psíquico ela se perdeu,
pensei um projeto e tenho um outro texto com sentidos inauditos. Entretanto, por
algum motivo as palavras seguiram em silêncio e, pelo mesmo critério, elas atravessam
a essência do texto e indicam um novo contexto neste escrito como artefato do
dizer. Eis aqui as Palavras como objeto do discurso: (...) o sentido pode sempre ser outro, ou ainda, que aquilo que é o
mais importante nunca se diz; todos esses modos de existir dos sentidos e do
silêncio nos indicam que este é fundante
(Orlandi, 2007). E assim os sentidos inaudíveis no ato de escrever,
encontram eco sobretudo, na forma de relação que a leitura terá com o leitor.
Eis aqui o instante deste diálogo. Diálogo de ex-istência e tempo, segundo Winnicott, para expressar ao leitor
que tem sido a (fonte de minha interlocução) para exercer a leitura e ter o
domínio da linguagem para então viver grandes acontecimentos.
Boas leituras!