sexta-feira, 29 de julho de 2016

O mal-estar social ou a cristalização da violência urbana?

Por: Vannda Santana
Revisão: Leo Bárbara
10/10/2009

Esta é uma cena comum no cotidiano da sociedade brasileira.

Certo dia, descia a Avenida Henrique Dodsworth no sentido Lagoa à Copacabana e deparei-me com uma cena, aparentemente comum, tão comum, que ninguém se deu conta do que estava acontecendo ou então, não quiseram “participar” da cena de agressão que sofria uma jovem adolescente. Essa jovem estava sendo assaltada e nenhum dos passantes que por ali transitavam não tiveram manifestação de apoio ou o desejo de ajudá-la. Então, gritei, pedi socorro, fiz sinal para os carros que passavam em disparada e nada. Muito triste. Ninguém se comove mais com coisas assim desse tipo: assalto ou agressão. Atos como esses, já não causam espanto, virou banalidade ou fato comum. Porém, tal como os demais que por ali passavam e nada fizeram para defender a jovem moça, eu também, fiquei ali, inerte, sem ação por algum tempo. Depois do episódio passado, veio o pânico e a reflexão. Pensei comigo: que situação abominável!... Estamos cada vez mais sujeitos a todos os tipos de reações: medo e uma reação de inércia. Sobra em cada um de nós a indignação que nos faz refletir sobre a situação de descaso e o abandono em que se encontra o nosso Estado, deixando-nos vulneráveis e a terrível sensação de  impotência acompanhada de revolta.
Acompanhe comigo a cena do assalto: o assaltante era um menino de aproximadamente uns quinze anos. Tinha aparência de maus tratos e uma ligeireza sem escrúpulos. A semelhança física não fazia jus às características de grandes habilidades com que ele revirava os pertences daquela jovem. O larápio e ligeiro como os ratos de bueiros, não demorou e logo desapareceu. O menino tinha nas mãos um caco de vidro como arma que o fez garantir todo episódio, dominando a situação enquanto tomava da jovem a mochila que estava presa nas costas e arrancando tudo que havia dentro dela. Pasmem, senhores, com a reação de ódio do menino, ao constatar que ali só havia livros e  cadernos. A vítima era uma estudante e aparentava ter a mesma idade do bandido. A diferença entre ambos é que ela voltava de um curso com sua mochila nas costa cheia de materiais didáticos, exercendo sua cidadania, estudando e levando a sério a sua vida com dignidade rumo ao futuro. Enquanto isso, lamentavelmente,  cresce sem controle em todo país a marginalidade. Quero lembrá-los de que a data do acontecido se passou num dia de sábado à tarde e, que, para muitos, seria um dia de descanso, de curtir uma boa praia, por que não? Porém, para aquela jovem, que pensava ser aquele dia, apenas um dia a mais para seus estudos, teve de atribuir esse acontecimento traumático em sua jornada, somando surpresas desagradáveis. Enquanto para o ladrãozinho, esse dia era um dia a mais na sua rotina de bandido solto com total liberdade para roubar e ou até matar se fosse o caso, qualquer um que cruzasse seu caminho: estudantes, trabalhadores, pessoas honestas (que pagam impostos) além de idosos que por ali passassem. O sábado do bandido tem rotina e motivo garantido: a tocaia, o espreitar a presa e surrupiar tudo que puder custe o que custar.
Na cena dramática do cidadão comum, um outro grande perigo está explícito: na hora de abrir a bolsa e nela só haver bens pedagógicos, o risco de sair ileso desse episódio será quase mínimo.   
 Queridos leitores, vejam que ironia, assisti ao assalto mas não fiquei inerte ao ataque daquele menino-monstro com tais atitudes: fui para a margem da rua e sinalizava parar os carros que passavam velozes pela avenida, (eles, apenas, desviavam de mim), resolvi ir para o meio da rua para chamar a atenção, já que ninguém parava, gritei, esbravejei, fiz sinal de pare por favor e quase me atirei na frente de um veículo que parou mais adiante e com o carro ainda em movimento, adentrei falando o que estava acontecendo; eram eles dois jovens e resolveram ir comigo até a uma cabine da polícia militar que ficava bem próximo dali. Lá chegando, falamos do que estava acontecendo e pedimos que se fossem rápidos, talvez desse tempo de pegar o bandido. Os policiais ouviram e perceberam que se tratava de um assalto. Nos dispensaram dizendo que iria tomar as devidas providências. Os dois rapazes me olharam sensibilizados e demonstraram sentir a mesma indignação que me assolava naquele instante.  A atitude do policial demonstrava um certo descaso com a situação, (coisa comum) no cotidiano das grandes metrópoles, porém, aos meus olhos, havia mais que descaso, havia um compromisso com a ação do bandido pela demora, pelo desinteresse e, sem falar nada, o policial se retirou, deixando escoar o tempo naquele compasso frouxo de suas pisadas, seguindo em direção ao que me parecia ser um sistema de comunicação, pois ali havia um telefone. Então, pensei: ele vai acionar uma patrulha que esteja nas imediações. Conclusão errônea. Esperei por alguns segundos o retorno do policial e ele não voltou. Como não houve solução de socorro imediato por parte daqueles que pensamos ser: proteção e justiça, por assim, cumprirem as funções que as Leis determinam. Saí dali em direção à minha casa, levando na alma um gosto amargo de decepção. Caminhei lentamente, pensando que o tempo já deveria ter arranjado uma solução para aquela jovem,  tão jovem e vítima  do  arsenal de violência urbana: vilipendiada, atacada, molestada e sem defesa contra os gatunos do dia a dia.
 O pouco tempo que permaneci ali à espera de uma solução, a qual não aconteceu e, ainda, em meio ao choque, apenas uma constatação se fazia presente para o tamanho da frustração: a certeza de estarmos abandonados à própria sorte.
 Quanto ao descaso do policial, não sei o que dizer e como argumentar. A sensação que tenho é que tudo parece fazer parte de um “jogo”, onde quem perde é o povo e o cidadão do bem.
Há um modelo falido de promessas governamentais. Mas há um modelo novinho em folha de novos políticos, com novos discursos, novos até na idade. Porém, esses novos modelos, não passam de cópias e seguem  o mesmo padrão de todos os órgãos do governo e do poder público; aquele do dinheiro na (cueca), na (meia), na (mala) repassam a garantia da continuidade e, também  a qualidade da espécie humana: um clichê na genética social dos governantes e políticos de todas as épocas e idades.
 E quanto à proteção e à segurança da sociedade? E o medo que nos assola? Estamos numa clausura, trancados em prédios e cada vez mais sem liberdade. Mas o grande recado já está dado pelos governantes corruptos: a população que se dane. A Zona Sul do Rio de Janeiro é uma vergonha sem medida: sujeira para todo lado e violência urbana sem limites. A população está cada vez mais encolhida: ficando  doente por entre as grades, acuada com seus míseros salários de aposentados. Por  tudo isso, ficam-se prisioneiros de um país desigual. Enquanto lá do lado de fora, miseráveis anátemas tomam conta das calçadas, de ruas e praças, dos bairros e nada acontece com (eles), ao contrário, ficamos mais “presos”. Porém, só nos cabe  perceber quão duro é a certeza de que nenhuma força eficaz, por parte de uma política ostensiva, agindo em nosso favor, pudesse fazer uma ação que nos resguardassem da bandidagem em seus latrocínios e violências.
Daí, a pergunta: até quando vamos ter de conviver com a violência e a falta de administração do poder público? Confesso que o episódio citado aqui, não é e nem se trata de uma cena isolada.  A televisão mostra com detalhes os crimes acontecidos no dia a dia, graças ao serviço do jornalismo investigativo e nada é feito para dar um basta à criminalidade que avança sem controle pelas ruas da cidade.
Por outro lado, será que devemos nos conformar com os resultados das várias patologias que se manifestam numa crescente em função do medo? Medos como fobias e síndromes de pânico sendo gerados por motivos indescritíveis de violência urbana?. Além do panorama da violência, deflagram-se a desesperança e a descrença governamental por saber que teremos de conviver com o caos urbano aparentemente indefinido. Por outro lado, temos também de passar atestados de imbecis por votarmos nas promessas de falsas mudanças. E o que permanece na história? Uma polícia sem força para agir; um governo sem caráter e um baita acervo-polivalente de políticos mais que corruptos, com ações crescentes e cada vez mais ávidos. 
Retomo aqui algumas perguntas: quando a sociedade irá acordar desse sono doente para gritar por um “herem”?. Quando iremos nos unir para dar um basta a tudo que nos faz adoecer e até culminar com perdas valiosas, até de nossa identidade? Quando será que teremos a coragem de fazer valer o significado da palavra "anátema"?
 Anátema. Palavra equivalente a "herem",  empreguei-a invocando seu  último significado bíblico, uma derivação da palavra "haram" a qual significa "cortar fora", "separar", "amaldiçoar", indicando que aquilo que foi amaldiçoado ou condenado deve ser cortado ou exterminado, seja uma pessoa ou um objeto.
Quero deixar claro aos meus amigos leitores que este relato é mais que um desabafo. Afirmo ser uma pessoa comum entre os milhões de brasileiros sofrendo os acontecimentos da má administração pública e, desse modo, estarão sofrendo como eu do mesmo mau. Para maior clareza, o significado da palavra "anátema" que a empreguei aqui, encontra-se em Deuteronômio (7, 26) e lá diz: "Não introduzirás em tua casa coisa alguma abominável, porque serias como ela, votado ao anátema". Também podemos constatar que no livro de Judith (cap.16, v. 23) o termo foi consagrado a morte de criminosos e teve seu sentido ampliado para: odioso e réprobo, significando objetos ou coisas detestáveis. Desse modo, a palavra “anátema” era igualmente empregada para aquilo que causasse vergonha, desprezo e desrespeito ao ser humano ou à sociedade.
 Por esse motivo, tomei a palavra anátema por empréstimo para ampliar a força de seu significado perante a significação de um sentido de ordem a qualquer custo ainda, que, seja esse custo, o custo da própria vida. Assim, a Bíblia apresenta o deuteronomista de Jos como herói e fiel cumpridor desse mandamento (6,8.2.26; 9; 10,28ss;11,11ss. 20s). Portanto, em anatematizar com a expressão de sentido equivalente a exterminar (...) motivo religioso. (Dicionário Enciclopédico da Bíblia, p.70). Não sou religiosa, sou pesquisadora com desejo de ver prosperar o BEM.
 Se a base da justiça pudesse rever os primórdios do respeito humano no que se fundamenta a religião escrita na bíblia, penso que a (justiça) deveria usar do mesmo antídoto extraído da própria violência, e, por conseguinte, não seria pecado exterminar um mal para que esse pudesse ser contido, não permitindo assim, a derivação para o mal social sem limite. Desse modo, como fez Judith, ao expor a cabeça do criminoso tal como era executada pela prática bíblica, talvez, pudéssemos colocar às vistas públicas as armas e os espólios dos criminoso de nosso tempo. Com certeza, teríamos o basta.
 É dessa origem que provém a palavra  "Herem" derivada da palavra "haram" a qual significa "cortar fora", "separar", "amaldiçoar", indicando que aquilo que foi amaldiçoado ou condenado deve  ser cortado ou exterminado, passando a significar algo odioso, execrável, objeto de abominação pública.
Desse modo, termino aqui  meu desabafo. Mas não concluo a insatisfação de ser cidadã num país onde o desrespeito público já se tornou uma constante. E nem posso realizar minha catarse  numa anátema. Apenas acredito que o que restou de consciência humana do massacre que sofre a sociedade, resta-nos ainda, o reflexo de imagens impressas de um sangrento e colorido caos urbano, que em nós se estampa, oxidando  nossas vidas e impedindo-nos de outras aspirações.
 E não por acaso muda-se o olhar assustado da sociedade sobre a sociedade que ainda se interroga: por que o crime ainda perpetua a passos largos? E a resposta surge em meio aos discursos desgastados: não, não se preocupem - tudo está sobre controle.

Esse olhar de hoje que se esgueira pelas frestas das grades ou pelas brechas das janelas em busca de paisagens perdidas, cata migalhas ressequidas de certezas de estarmos vivendo uma história a qual o medo é a sobra como refúgio. Ainda que  haja certezas de que não haverá “anátemas” de justiça, uma nova ORDEM há de surgir. 

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Os múltiplos de mim

“Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar.”
(Fernando Pessoa)


Eu e meus escritos e os múltiplos de mim: na poesia, às vezes sou uma jovem quase adolescente, em outros momentos, sou uma senhora recatada e, até certo ponto, às vezes, chata, prolixa, procurando a palavra certa, aquela que melhor se encaixe no verso. Mas não se iludam que termine por aí o arsenal de fantasmas que habitam em mim. Nesta conversa podem até pensar que me revelo; enganos mil. Nenhuma forma retrata o perfil dessas vozes que se fazem passar ao narrar por mim. Enquanto escrevo, uma delas “finge” ser quem sou e o que sou nem eu mesma sei. Sei que, em apenas alguns instantes, uma outra mulher estará presente neste escrito, bem parecida com aquela que você já leu, mas, não é ela. Tal como as águas de um rio que passa veloz mudando sua história, assim sou eu em cada escrito. E não sou eu quem muda e, sim, a própria história.

Diante do computador, olhando a tela, me vem à mente a professora, a terapeuta, a pesquisadora, a mãe dedicada entre outras tantas. Porém, todas questionando sempre às coisas da vida. Mas nem todas tem o mesmo perfil. No mesmo conjunto dessas muitas que sou, existe uma muito forte que, por vezes, divide o mesmo lugar habitado pela a mais fraca ao se deixar vencer pela depressão. Depressão? Sim! Depressão, como algo “sistêmico” como sintomas da modernidade.Graham Greene disse: “Às vezes cogito como é  que todos os que não escrevem, não compõem ou não pintam conseguem escapar da loucura, da melancolia, do pânico inerente à condição humana.”[1] Por isso, escrevo e não se espante com a depressão. Ela pertence àquelas pessoas pensantes, preocupadas com o rumo das coisas e da vida cotidiana. E são elas criaturas sem rosto, porém, diversificadas e de múltiplas castas: ricas e pobres, de variadas profissões, são artistas, são escritoras, são desenhistas e elas são assim, as multifaces de um só fazer. E aqui convivem muitas de mim até que algo aconteça.

 Bem, até aqui só mostrei pedaços dessas múltiplas que já são conhecidas de vocês no gênero da poesia. Mas ainda há muito mais de mim, espalhados pelos meus escritos. Por exemplo, na escrita dos contos existe uma vestimenta peculiar para cada uma das personagens e, como são poucas, posso lhes emprestar uma interessante linguagem e ainda lhe oferecer uma identidade jovem de alma romântica por trocar juras de amor infinitamente. Enquanto que nas crônicas a mesma cena já não acontece e o mesmo se dá nos ensaios, pois aí surge um outro “eu” bem mais crítico e politizado, mais consciente da realidade e nesta hora, exalta-se uma mulher questionadora, ativa; quase engajada nas questões sociais.

E ainda existe um romance, porém, (inédito) e com uma temática bastante surpreendente aparentemente e que nada tem a ver com o que sou e gosto. O romance em questão é carregado de linguagens policialescas, o que contraria a minha forma literária de escrever. No projeto inicial a escrita pretendia vir a ser um objeto de estética social cheio de aventuras juvenis, relatando fatos de um ambiente regional. De repente, ao meio do caminho da escrita, surge uma vertente modificando o tom e o clímax do romance, contrariando o estilo que a minha sensibilização e vocação haviam se emprestado ao texto. A partir desse momento, a escrita passou então a exibir uma linguagem de suspense – recheada de confissões – e isto gerou em mim uma tremenda confusão, levando-me à desistência de continuar escrevendo sobre coisas que não gosto de ver e de sentir. Fiz uma baita força para trabalhar uma narrativa dotada de características leves e emocionais, mas não deu muito certo. Por mais que eu fugisse do rumo da linguagem de crimes mais enrolada, a trama se vestia e se enaltecia de uma convicção tão real, exercendo uma linguagem independente da minha vontade. Então, parei de escrever. Mas, para surpresa minha e, possivelmente, de todos que me leem, não consegui me distanciar da linguagem do crime e da violência. Isto porque eu queria fugir à linguagem policial, pois, sem que eu quisesse, uma força estranha tomava para si o rumo da escrita. Mas fiquem tranquilos. Por saber que foi em vão toda essa tentativa, apossei-me dos conhecimentos literários e tudo que eu pudesse lançar mão para conduzir você, leitor, a esses labirintos que não foram tramados por mim oficialmente, mas que nele conterá uma surpresa agradável, para isso bastará lê-lo até o fim. Entretanto, certa de que a escrita teria de convencer, através das ações propostas com seus elementos que caracterizariam os tipos de personagens, tentei  buscar uma saída que me levasse a transitar mais confortavelmente pela obra: coloquei na boca de uma personagem, palavras da poesia, exaltando uma poeta muito à frente de seu tempo (eis um outro livro, dentro do livro). Claro que não foi fácil.

De acordo com tal visão, delimitei os fatos do dia a dia, compatíveis com a do cenário explícito demograficamente, para abrigar o enredo e a trama do romance. Assim, desse modo, não pude mudar o clímax de suspense da narrativa, mas pude dar ao romance uma nova energia e fazer o texto obedecer à voz que narrava os poemas. Agora, deixo você  leitor, fazer suas próprias descobertas ao longo da história junto com cada personagem.

Iniciei este escrito para falar dos múltiplos de mim. Assim sendo, quer sejam na poesia, no conto ou nas crônicas, a linguagem sempre será única naquele instante, tal como as águas de um rio. De acordo com Heráclito Não cruzarás o mesmo rio duas vezes, porque outras são as águas que correm nele. Desse modo, vive a “população” dos meus escritos, perpetuando-se e se fazendo significar naquilo que produz durante a sua transição. E ainda segundo Heráclito: Tudo flui, nada persiste nem permanece o mesmo. Portanto, não se surpreendam se por acaso uma senhorinha bem velhinha se apresentar como uma jovem e,  num outro momento, a mesma “criatura” parecer mais idosa e agir de tal forma que venha a ser uma criança. Não se trata de senilidade, nem insanidade – isto é arte e, portanto, as recebam todas com suas aventuras – pois, em cada uma, há um todo e em todas elas estarão presentes um pedaço de mim, compartilhando emoções e semelhanças.

 Demonstrei até aqui o mundo criativo que existe em cada escritor. Um certo modo de “confessar”, tal como a temática do meu romance –  confissões, onde a protagonista faz alusão à narrativa para os atos de confessar. Esses momentos de criação podem até parecer repetitivos, pois fazem parte da arte de escrever e não importa o quê.  Daí, a necessidade de ser múltiplos, de comungar verdades e mentiras, de ser o rei ou a rainha, de viver o amor ou a decepção. E, assim, ser mil em um ao exibir possíveis cenas de convivências, de comunhão e de hábitos em suas diversidades.

Eis aqui uma dúzia de mim esperando por outras oportunidades para se multiplicar em tantas mais: criança, adolescente, jovem, madura, meia idade e velha, porém, feliz.


[1] SOLOMON, Andrew. O demônio do meio-dia: Uma anatomia da depressão. Rio de Janeiro; Objetiva, 2002, p. 12.