Este artigo resultou da percepção de um "olhar" as imagens da pintura de um óleo sobre tela da artista Márcia Vital
Por: Vannda Santana
Por: Vannda Santana
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Rosácea - óleo sobre tela |
O espectador diante
do objeto:
O lugar da percepção
diante do objeto, espaço virtual, é a interpretação da observação de um olhar questionador,
ao contemplar a pintura que não quer ser estática. Do centro para as bordas, os
corpos giram e, aos poucos, as Formas parecem subverter a ordem. O espectador continua
impactado, em estado de êxtase, de olhos fixos cravados na tela, observando os
pontos que ligam o objeto às imagens. Ilusão de ótica? Não. Não é ilusão, é
arte numa fusão de corpos; é a arte gerando vida na tela com pele e osso na imagem rosada, pelo pintor
esculpida. O olhar do observador, distingue corpos opostos de tinta e óleo,
fecundados por uma paleta mágica de células e penumbras comprometidas com o
espaço de uma rosácea sensual. Fenomenologia ou visão gestáltica?
Segundo Merleau-Ponty: “Tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu o sei a partir de uma visão minha ou de uma
experiência do mundo sem a qual os símbolos
da ciência não poderiam dizer
nada.” É desse modo que o olho insiste
em ver na Forma o que não é uniforme; e, dentro da forma pululam imagens míticas
que transitam contorcidas, acopladas, copuladas, como personagens que geram e
encenam em sépalas o cálice do encontro entre luz e sombra onde há mais sombra
que luz. As cores de terra se vestem
de sensualidade para o gesto imobilizado do abraço entrelaçado. Uma visão, ou
alucinação?
A obra de arte
no quadro Rosácea sugere conceitos entre o real e o simbólico, apontando para
uma releitura da imagem em movimento, onde criaturas diáfanas, dionisíacas, assemelham-se
a uma escultura surreal. Foucault afirma que nenhum olhar é estável. Assim, diante do exposto, acredita-se num
olhar que amplie o seu modo de ver o objeto de arte de acordo com a sua
estrutura cultural.
O quadro, o
qual estamos contemplando agora, nos remete a múltiplas visões. Percebemos figuras renascidas da aurora boreal e do caos imaginário,
porque é nesse caos que elas se refazem e se realizam no útero-espaço em
espiral, espaço circular, porque é também deste que a arte objetiva-se como
princípio germinal e ponto primordial.
O que uma tela
ou uma obra de arte pode apresentar para os nossos olhos, perante o que vemos e
o que sentimos com as imagens que construímos em nosso imaginário? A artista Márcia
Vital, talvez não tenha tido a intenção de impactar a nossa percepção com seu
trabalho de arte nesse quadro “Rosácea”. Porém, o que a arte no quadro nos
revela, não nos imobiliza; ao contrário, nos conduz a ver o que nela se
desencadeia através de um simples jogo de cores que se fundem entre o barro e
as centelhas do bronze. Assim, a obra de arte da pintora Márcia pode ser lida como
se lê um poema, da qual se pode também sentir o grau de emoção.
Para um olhar aguçado de qualquer espectador atento, tudo pode ser desnudado. A pintura,
emprestou-nos o visível e o invisível, permitindo-nos a sensação do percebido para
além da superfície: o outro lado, por dentro da obra, na sua mais íntima face,
a face oculta que não escapa ao olhar daquele que pode ver.
Talvez, de
todas as representações no modo de olhar um quadro, o Rosácea, como objeto de
arte, parece cumprir uma função que atravessa a tela no deslocamento do olhar
para fora do limite de onde a imagem se estrutura, criando, assim, uma ligeira
ilusão simbólica do espaço em
movimento. As imagens parecem se projetar em círculos,
seladas pela curva de corpos ambíguos de pincel e tinta que as unem uma a outra
do centro para as bordas. Não são apenas sombras que o véu de rosas faz girar,
nem só refrações que nos cegam o olhar, mas sim o que está por trás desse
objeto de arte: espaço abstraído e subvertido pelo olhar. A arte é, portanto,
mestra em gerar ambigüidades em nossa percepção de acordo, com a acomodação ou
a inquietação no modo de olhar.
Ao terminar
este artigo, penso que existam várias formas de se ver uma imagem e vários
sejam os modos de interpretá-la; ou seja, talvez, possamos inscrever a imagem como significante
de uma interpretação, assim como afirma P. Bruno:
É preciso renunciar ao significado da imagem, para
constituí-la como elemento de escrita e
para poder apreende-la por sua face significante, por sua estrutura material de
palavras.
Conclui-se que
há muitas formas de olhar o objeto de arte, assim como nossas retinas podem ganhar
lentes de aumento e que nossos olhos podem até delirar como tantos ébrios, pois a arte também está no
olho ao participar do gesto que se coloca dentro da cena.
Amigo leitor,
deixo-o com o belo que seus olhos possam ver, do ato seminal até a dança de uma
cadência de ritmos e delírios; mas fique, sobretudo, com o quadro real e com o instante perceptível de uma
observação quase ritualística.