O Fog, tal como
um personagem em ação, veste o dia com suas espessas franjas brancas e navega entre montanhas e vales no sabor do vento. E o Fog vibra com suas diáfanas cortinas que bailam em movimento: se faz de “arteiro”
do tempo e tolda a nossa visão; modifica o cenário de bairros e lugares, veste
de branca névoa, imagens de árvores e
casas. Enquanto dura essa façanha, empresta aos nossos pobres olhos em
segundos, um novo cenário para um outro
vislumbrar.
Vannda Santana
“Se fossemos verdadeiros peritos em climatologia,
se conhecêssemos verdadeiramente os sutis mecanismos do tempo atmosférico,
saberíamos que a influência do homem sobre o clima é um tema tão antigo como a
própria humanidade.”[1]
As emoções compõem os sentimentos do homem ao longo de
sua história e exercem um poder mágico nas relações sociais e individuais.
Portanto, as emoções parecem receber
influências geográficas de tempo
e clima, interagindo-os às percepções
afetivas de espaço e lugar, modificando comportamentos emocionais e de humores.
E o Fog? Este nos parece ser o grande “vilão” dessa estória. Com seus
pincéis e paletas invisíveis, vai
“pintando” o cenário da natureza,
modificando imagens e paisagens, colocando brancas cortinas de vapores nas
casas e nos telhados, nos campos e nas árvores. O Fog? Também brinca de
esconde-esconde a qualquer hora da noite ou do dia.
Segundo estudiosos de climatologia e meteorologia dizem
que o tempo corresponde às condições atmosféricas existentes num dado
momento e numa dada região e, enquanto o clima, corresponde às
condições atmosféricas médias em relação a sua variação ao longo do ano numa
dada região. E isto quer dizer que o tempo traduz um estado atual da
atmosfera, ao passo que o clima representa um estado médio da atmosfera.
Como o Clima resulta, em última análise, de uma sucessão de estados de
tempo, pode-se defini-lo melhor como sendo “a sucessão mais frequente dos
diversos estados de tempo ao longo do ano”.[2]
Partindo do empréstimo dessa leitura sobre o tempo
e o clima
podemos rever a história do homem num determinado tempo e a sua relação
climática com as variáveis de emoções. Pode parecer utopia relacionar estado
psíquico com o estado físico por estar
num determinado lugar sob os efeitos de acontecimentos externos da natureza.
Mas sabemos que esses eventos de transição naturais podem causar predisposição
para desenvolver certos tipos de doenças de situações sazonais climáticas e
diversas. Assim, temos uma relação com o desencadear de sintomas que propiciam
o estado de tristezas ou de alegrias e, dessa forma, ao serem afetados por tais
influências, o corpo refletirá o clima e a psique, o estado do tempo e do lugar.
É comum sentirmos uma sensação de bem-estar quando
percebemos um lindo dia de sol. E é mais comum ainda vermos as flores
exuberantes de um jardim num dia de chuva. Mas é extremamente comum vibrarmos
com as crianças nas águas frias de uma cachoeira num dia de extremo calor.
Entretanto, todas essas reações passam pelo efeito do olhar e do sentir essas
alternâncias de tempo e de lugar com suas regulações climáticas.
Talvez, este seja um estudo que mereça maior observação
do estado de emoção, modificado pelo efeito do clima com as variáveis do tempo.
Esses dados de interferências de comportamentos específicos e de influências da
natureza que atingem o emocional do individuo requer maior atenção e não é a
nossa proposta neste artigo. Apenas para ilustrar nosso ensaio sobre essas
reações climáticas que tomam conta do corpo e da psique do ser humano,
lembro-me de um caso de uma moradora de Petrópolis que dizia ter três meses de
criação cultural, três meses para plantação e os demais meses para viver a
depressão. Perguntado a ela qual era a causa dessa depressão, ela responde de
imediato: acordar sem sol é quase comum, com chuva também, mas com fog por
vários dias reforça em nós a idéia de solidão, de um vazio infinito, de um
exílio coletivo onde o outro não é visto, sequer sentido, apenas imagina-se que
ali estaria esse outro ou uma casa com pessoas, mas que os olhos não conseguem
ver.
Entender esse
tipo de solidão como “sintoma” de depressão não é uma afirmativa. Mas sabemos
que é uma característica de lugares frios esse fenômeno climático. Porém, o que
nos remete para esse lugar é a possibilidade de um olhar menos banalizado sobre
a questão da depressão, sem ter de passar pelo rótulo de doença sazonal ou
então, pela crise da introspecção que os diversos sintomas aparentes sugerem.
Entretanto, as emoções causadas pelo Fog, surgem provenientes de uma situação
climática, sinalizando uma predisposição (boa ou ruim) em pessoas sensíveis,
causando alegrias ou tristezas e, às vezes, uma introspecção, como estado de
solidão. Portanto, podemos até dizer que se trata de uma “solidão coletiva”
vivenciada pela invisibilidade desse “outro”, de um “outro” que se encontra por
trás de uma janela fechada. Ou ainda, camuflado dentro de uma nuvem branca e
diáfana.
O estado
emocional de estar num determinado
lugar, num tempo qualquer, corresponde a uma situação que aparentemente nada
tem a ver com a situação da meteorologia
existente numa dada região. Entretanto, quando se faz um passeio por
regiões de serras montanhosas com seus riachos contornando os relevos, nos faz
contemplar belas pastagens eleva nosso olhar para um vislumbrar o mais pleno
estado de alma o que nos permite fantasiar emoções ao emitir em nosso corpo
sinais ópticos que são transformados em fenômenos químicos formando uma rede
axônios de neurônios de felicidades por viver aquele momento paradisíaco como
se fosse único. Esse complexo emocional, passa pelos órgãos da percepção e os
estímulos sensoriais respondem pela
mensagem que tem como significado a emoção. Segundo (DELGADO) existem
várias formas de emoções e muitas reações emocionais e, para ele, nem todas
requerem compreensão, assim, afirma o
autor:
As emoções são usualmente
determinadas por uma combinação de percepção e lembrança, porquanto a
interpretação dos sinais recebidos depende em grande escala das experiências
passadas e a lembrança é muitas vezes iniciada e modificada por estímulos
ambientais.[3]
Voltando ao tema que deu origem a este texto – O Fog modificando imagens e alterando emoções – caracteriza-se para além dos elementos meteorológicos
com seus estímulos externos, o que nos chamou à atenção, debruça-se para as reações físicas e psíquicas de
estímulo perceptivo. Dessa mera observação, surge a indagação como
possibilidade de investigação fenomenológica das emoções: quais desses
elementos da natureza teria maior incidência sobre a geografia das emoções: o tempo ou o clima? Talvez, esse seja o maior mistério e de maior dificuldade
para fundamentar futuras pesquisas, o que não é o nosso objetivo neste artigo.
Fica aqui apenas sugestões, cuidar em
amenizar a dor da alma humana que sofre e sente depois do corpo revelar-se em
sintomas depressivos e nostálgicos.
Para melhor
esclarecer as diferenças conceituais entre a depressão e um momento depressivo
por depressão normal seria necessário comparar a diferença que há entre clima e
tempo. Clima e tempo não são a mesma coisa. O tempo é representado pelas
condições atmosféricas de um lugar em determinado momento. Já o clima é a
sucessão habitual de tipos de tempo em um local na superfície da Terra. O tempo
pode mudar de uma hora para outra, enquanto o clima é mais duradouro, não muda
com tanta facilidade. O estudo do clima inclui o conhecimento de elementos
importantes, como temperatura, umidade, massas de ar, pressão, ventos e
precipitações. O tipo de clima depende de uma série de fatores, como latitude,
altitude, relevo, distribuição das terras e dos mares, radiação solar etc.
Sabemos que até mesmo o ser humano pode alterar o clima com suas interferências
na natureza.
Portanto, nessa pequena demonstração estaria o
clima – como estado de humor – e o tempo – como fator de variações. Neste
caso, um paciente deprimido teria dias melhores ou piores enquanto que em ambos
os dias, qualquer pessoa poderia ter suas tormentas: ora com dias ensolarados,
ora com chuvas e trovoadas. Portanto, comparar as fases de um baixo astral com o estado de depressão,
seria um grave erro e não estaríamos falando da mesma coisa. Ninguém pode
afirmar o que um deprimido sente, só ele mesmo. O psicanalista ou o psiquiatra
podem até reconhecer os sintomas de seu paciente, mas jamais saberão entender
na íntegra o que representam esses estados de sentimentos e sofrimento no corpo
e na alma desse ser humano.[4]
Uma pessoa
deprimida precisa de sol e o papel da atmosfera é fator determinante. Quando o
céu está claro os raios solares nos atinge com maior quantidade de calor, fixando em nossos corpos
a vitamina D, elemento de grande importância em nossas vidas. Com o céu nublado, tudo parece escurecer, até
o interior da casa e dos corpos ficam mais frios e escuros. A falta de
exposição à luz solar, em caso extremo, pode levar a esse tipo de depressão já
falado anteriormente e conhecido como Depressão Afetiva Sazonal (Seasonal
Affective Disorder -SAD). Esse tipo de depressão foi reconhecido pela primeira
vez pelos cientistas do Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA em Bethesda,
Maryland, nos anos oitenta. Em 1987,
a depressão afetiva sazonal também foi reconhecida como
um tipo de depressão pela Associação Psiquiátrica Americana, que desenvolveu um
diagnóstico específico para o problema. A doença atinge homens e mulheres de
todas as raças e idades, inclusive crianças, mas a tendência é que mais
mulheres do que homens sejam afetadas. Pesquisas revelam que há quatro mulheres
para cada homem com depressão sazonal. Quanto mais longe da linha do Equador a
pessoa viver, mais chances terá de sofrer de depressão sazonal.
Os sintomas mais comuns de depressão sazonal são:
>alterações drásticas de peso e apetite
>baixo nível de energia física
>exaustão e fraqueza
>insônia ou sono prolongado
>isolamento
>letargia
>ansiedade, desespero, carência
>falta de interesse pelas tarefas do cotidiano
>pouco ou nenhum apetite sexual
>falta de concentração e raciocínio lento
>incapacidade de tomar decisões
>sentimento de culpa
>auto-flagelação e fatalismo
>ataques de choro, angústia, pensamentos suicidas
>exaustão e fraqueza
>insônia ou sono prolongado
>isolamento
>letargia
>ansiedade, desespero, carência
>falta de interesse pelas tarefas do cotidiano
>pouco ou nenhum apetite sexual
>falta de concentração e raciocínio lento
>incapacidade de tomar decisões
>sentimento de culpa
>auto-flagelação e fatalismo
>ataques de choro, angústia, pensamentos suicidas
À guisa de
conclusão, informamos que os sintomas com alterações climáticas e com predisposição à reação psicofísica foram
meras observações de convivências com pessoas moradoras da cidade de Petrópolis
no período de 1998 a 2004. Além dessa observação, na qual se apoiou este
escrito, outras fontes deverão ser consultadas.
[1] Aguiar, João (2002): Que Tempos!, In :Super
Interessante nº 45.
[2] http://profjeferson1.blogspot.com/2008/09/os-climas-da-terra.html
[3] José M.
R. DELGADO. Emoções. Editora da
Universidade de São Paulo – Livraria José Olympio Editora, p. 32.
[4] http://www.klickeducacao.com.br/materia/16/display/0,5912,POR-16-44-630-,00.html