domingo, 25 de janeiro de 2015

A Paineira de Copacabana







A Paineira de Copacabana floresce no asfalto da Praça Arcoverde cercada de cimento por todos os lados



Inicio este texto com um pedido de socorro: meu senhor, mande urgente uma chuva do céu para salvar esta linda flor, pois ela representa o abrigo, a casa e o ninho de tantos pássaros que, para ela, retornam contentes ao anoitecer e, quando o dia amanhece, alçam alvorada em retirada com cantos e festivais. As nossas Paineiras necessitam viver e elas parecem lutar contra toda poluição do ar que cai ao seu redor. Mas, ainda assim, são elas magníficas, charmosas e elegantes nas suas formas requintadas de ser. Com, aproximadamente, doze a quinze metros de altura e um tronco espinhoso (algumas já sem espinhos) costumam exibir suas floradas exuberantes. E elas são assim, se destacam no cinza do cenário urbano indiferentes à poluição e, dependendo do lugar onde vivem, pintam de rosa o chão de ruas e avenidas.


Para alguns biólogos e ambientalistas, as Paineiras e as Quaresmeiras são espécies de árvores que se tornam presentes com suas floradas nesta época, entre dezembro e abril, iniciando o ano com sua temporada de flores. Enquanto que, para outros estudiosos, de acordo com cada região, as quaresmeiras iniciariam seu processo de floração em março e as Paineiras em abril. Para o mês de maio, espera-se, então, a florada dos ipês (branco, rosa e amarelo) que por sua vez se estende na temporada até setembro. Em agosto, será a vez das floradas dos Jacarandás conhecidos como ipê roxo. A informação oferecida aqui sobre a época de floração de cada espécie apoia-se no conceito[1] referenciado. Porém, pude notar algumas divergências nos períodos de floração das mesmas espécies citadas em outras fontes.  Diante do exposto, este texto não pretende ser objeto de estudo. Trata-se de uma crônica e, por isso mesmo, não abrangerá conceituações de conhecimento específico sobre variações climáticas ou sobre as regiões onde melhor se adéquam.


Quero apenas falar das Paineiras, não de uma paineira qualquer mas, principalmente, a Paineira de Copacabana, aquela que floresce no asfalto e quase ninguém vê. É para ela o meu olhar da janela; é sobre ela o cantar entusiasmado do Sabiá; é nas flores em forma de orquídea que o refinado néctar está intimamente guardado. A Paineira de Copacabana exibe, na praça, o seu mais singelo matiz; estende seus galhos em forma de braços ornados como um tapete de pétalas em passarela, sem mesmo discriminar os passos que por ali passam distraídos para o Metrô.


Um lembrete histórico: antigamente, as pessoas utilizavam as sementes das Paineiras, chamadas de paina, para encher travesseiros,  almofadas e bichos de pelúcia, em função de serem peludas, lembrando algodão. Talvez, por esta razão, possamos dizer que há um étimo sensorial presente no contexto da semente-paina, remetendo-nos à maciez dos travesseiros, tão desejados por todos para que tenham noites de bom sono. Ou, ainda, como a falta que se quer preenchida na semântica dos travesseiros e dos bichinhos de pelúcia. Nesse não ato, registra-se a ausência que se faz notar. Este é o sentido: há um vazio, vazio pleno, até de “paina”. Fica a reflexão. 


Esta é a Paineira de janeiro, da Praça Cardeal Arcoverde, Praça-casa; Praça-dormitório; Praça-de-gente-sem-casa que assim como a Paineira, também sofre seus revezes. Esta é a Paineira de Copacabana que, ao lado dos sem-teto, sofre a perversa ação do homem.


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