A Paineira de Copacabana floresce no asfalto da Praça Arcoverde cercada de cimento por todos os lados
Inicio
este texto com um pedido de socorro: meu senhor, mande urgente uma chuva do céu
para salvar esta linda flor, pois ela representa o abrigo, a casa e o ninho de
tantos pássaros que, para ela, retornam contentes ao anoitecer e, quando o dia
amanhece, alçam alvorada em retirada com cantos e festivais. As nossas
Paineiras necessitam viver e elas parecem lutar contra toda poluição do ar que
cai ao seu redor. Mas, ainda assim, são elas magníficas, charmosas e elegantes
nas suas formas requintadas de ser. Com, aproximadamente, doze a quinze metros
de altura e um tronco espinhoso (algumas já sem espinhos) costumam exibir suas
floradas exuberantes. E elas são assim, se destacam no cinza do cenário urbano
indiferentes à poluição e, dependendo do lugar onde vivem, pintam de rosa o
chão de ruas e avenidas.
Para
alguns biólogos e ambientalistas, as Paineiras e as Quaresmeiras são espécies
de árvores que se tornam presentes com suas floradas nesta época, entre
dezembro e abril, iniciando o ano com sua temporada de flores. Enquanto que,
para outros estudiosos, de acordo com cada região, as quaresmeiras iniciariam
seu processo de floração em março e as Paineiras em abril. Para o mês de maio,
espera-se, então, a florada dos ipês (branco, rosa e amarelo) que por sua vez
se estende na temporada até setembro. Em agosto, será a vez das floradas dos
Jacarandás conhecidos como ipê roxo. A informação oferecida aqui sobre a época
de floração de cada espécie apoia-se no conceito[1] referenciado. Porém, pude
notar algumas divergências nos períodos de floração das mesmas espécies citadas
em outras fontes. Diante do exposto,
este texto não pretende ser objeto de estudo. Trata-se de uma crônica e, por
isso mesmo, não abrangerá conceituações de conhecimento específico sobre
variações climáticas ou sobre as regiões onde melhor se adéquam.
Quero
apenas falar das Paineiras, não de uma paineira qualquer mas, principalmente, a
Paineira de Copacabana, aquela que floresce no asfalto e quase ninguém vê. É
para ela o meu olhar da janela; é sobre ela o cantar entusiasmado do Sabiá; é
nas flores em forma de orquídea que o refinado néctar está intimamente
guardado. A Paineira de Copacabana exibe, na praça, o seu mais singelo matiz;
estende seus galhos em forma de braços ornados como um tapete de pétalas em
passarela, sem mesmo discriminar os passos que por ali passam distraídos para o
Metrô.
Um
lembrete histórico: antigamente, as pessoas utilizavam as sementes das
Paineiras, chamadas de paina, para encher travesseiros, almofadas e bichos de pelúcia, em função de
serem peludas, lembrando algodão. Talvez, por esta razão, possamos dizer que há
um étimo sensorial presente no contexto da semente-paina, remetendo-nos à
maciez dos travesseiros, tão desejados por todos para que tenham noites de bom
sono. Ou, ainda, como a falta que se quer preenchida na semântica dos
travesseiros e dos bichinhos de pelúcia. Nesse não ato, registra-se a ausência
que se faz notar. Este é o sentido: há um vazio, vazio pleno, até de “paina”. Fica
a reflexão.
Esta
é a Paineira de janeiro, da Praça Cardeal Arcoverde, Praça-casa;
Praça-dormitório; Praça-de-gente-sem-casa que assim como a Paineira, também
sofre seus revezes. Esta é a Paineira de Copacabana que, ao lado dos sem-teto,
sofre a perversa ação do homem.