"Eu vivia num estado de tensão, à medida que fui
conseguindo traduzir as emoções em imagens- isto é, à medida que fui
descobrindo as imagens que se encontravam escondidas nas emoções- vi-me
acalmado e seguro interiormente." C.G. Jung
O rococó é o estilo artístico que surgiu na França como
desdobramento entre o barroco e o arcadismo, porém, bem mais leve e intimista
que aquele usado inicialmente em decoração de interiores. O estilo
desenvolveu-se na Europa do século XVIII, e da arquitetura disseminou-se para
todas as artes. Um dos movimentos vigorosos da época até o advento da reação
neoclássica por volta de 1770, quando se difundiu principalmente, na parte
católica da Alemanha, na Prússia e em Portugal.
O movimento rococó teria sido
considerado por muitos, por ter adquirido características “profanas” uma
variação vinda do barroco. Esse
movimento, ganha maior expressão a partir do momento em que houve a libertação
dos temas religiosos, dos temas utilizados em cenas eróticas ou da vida cortesã
tais como (as fêtes galantes). Havia uma farta estilização naturalista do mundo
vegetal em ornatos e molduras além dos temas mitológicos, pastorais, com
alusões ao teatro italiano da época. O termo (rococó) deriva do francês
rocaille, [rocalha] que significa "embrechado", técnica de
incrustação de conchas e fragmentos de vidros utilizados originariamente na
decoração de jardins e grutas artificiais
que se populariza por analogia ao termo italiano barocco.
Na França, o
rococó é também chamado estilo Luís XV e Luís XVI. Há ainda, a expressão “época
das Luzes” na qual teve sua notoriedade,
talvez pelo relativo apelo ao século de paz na Europa marcado pelo período de
pós Revolução Americana de 1776 e logo em seguida, pela Revolução Francesa de
1789. No centro dos acontecimentos, a história surge agregando as artes, as
formas e as expressões artísticas – o Século das Luzes, culminando com – a
gramática estilística do Neoclassicismo, por dominação e criação dos artistas.
Jean-Honoré Fragonard (1732-1806) – e seu estilo de época do
século XVIII europeu, o rococó. Um estilo que se desenvolve em meio às
sutilezas de uma complexidade formal diante dos excessos do barroco, apelando
para a leveza, graça e para os coloridos suaves. Os alemães se antecipam ao
empregar o termo em sua acepção moderna de estilo artístico referindo-se à
arquitetura e as artes ornamentais na segunda metade do século XIX,
libertando-o assim do sentido pejorativo que o acompanha, desde a origem até o
século XIX. Mas somente em 1943, com a obra clássica do historiador Fiske
Kimball sobre o assunto, The Creation of the Rococo, que se fixam as origens do
estilo na França em meados do século XVIII. A partir daí, o rococó deixa de ser
visto como uma variante do barroco, passando a ser considerado um estilo autônomo,
irredutível ao barroco e ao clássico.
Os historiadores da arte distinguem dois momentos do rococó.
Um que vai de 1690 a 1730, o "estilo regência", marcado pelo
rompimento com a rigidez arquitetônica do estilo Luís XIV, com a introdução de
curvas flexíveis e de linhas mais soltas. Datam desse momento, as decorações de
Pierre Lepautre (1660-1744), as gravuras e relevos de Jean Bérain a pintura de
Jean-Antoine Watteau (1684-1721), pintor mais importante do período que
imortaliza "as festas galantes" (por exemplo, Peregrinação à Ilha de
Cítera, apresentada à Academia em 1717), gênero maior da pintura rococó. Os
anos compreendidos entre 1730 e 1770 marcariam o rococó propriamente dito com a
projeção de uma nova leva de artistas - Juste Aurèle Meissonnier (1695-1750),
Nicolas Pineau (1684-1754), Jacques de Lajoue II (1687-1761), - que trabalham
na remodelação das residências urbanas da nobreza e alta burguesia parisiense
(os chamados hôtels), dotando-as de maior funcionalidade e conforto. Nesse
sentido é que o estilo se desenvolve ligado à ornamentação de interiores,
preferencialmente articulado às artes decorativas e ornamentais, boa parte
delas consideradas menores, como o mobiliário, a tapeçaria, a porcelana e a
ourivesaria.
Um exemplo característico do estilo na França pode ser encontrado
no Salão Oval da Princesa do Hôtel Soubise de Paris (1738-1740). Na pintura, os
nomes mais importantes dessa fase são François Boucher (1703-1770), Jean-Honoré
Fragonard (1732-1806), Jean-Baptiste Pater (1695-1736) e Jean-Marc Nattier
(1685-1766). Na escultura, Etienne Maurice Falconet (1716-1791) é considerado a
expressão mais relevante do rococó, como atesta sua célebre Banhista (1757), e
a estátua eqüestre de Pedro, o Grande, na antiga Leningrado, atual São
Petersburgo.
Os traços mais salientes do estilo rococó relacionam-se ao
uso das rocailles, que se combinam aos arabescos com linhas curvas em c ou s.
As composições realizadas com extrema liberdade e fantasia mesclam a
sinuosidade das linhas com motivos tirados da natureza: pássaros e pequenos
animais, plantas e flores delicadas, formações rochosas, águas em cascata ou
brotando do solo. Na arquitetura, sobretudo nos interiores, predominam os
traçados sinuosos, as cores claras, o uso da luz (pelas janelas francesas que
descem ao chão) e dos espelhos. O luxo da decoração interna tem o seu
contraponto na simplicidade das fachadas externas dos edifícios. Ao redor de
1760, assistimos à retomada das tendências e repertórios clássicos, nas
pilastras, medalhões e troféus que tomam conta das decorações. Enraizado
culturalmente no século XVIII, o rococó liga-se à sociabilidade elegante do
período, às modas e maneiras cotidianas que têm nos salões literários e
artísticos expressão significativa. A polidez e a performance social que os salões
evidenciam vêm acompanhadas da importância do luxo e refinamento (do espírito e
do corpo). As artes, nesse contexto, ligam-se diretamente ao prazer e ao
divertimento o que leva os estudiosos a falarem em um fundo hedonista presente
nas mais diversas manifestações do rococó.
A vivacidade e alegria da vida cotidiana, além da
frivolidade elegante da sociabilidade cortesã francesa, rondam também a pintura
rococó, como exemplificam as telas de Boucher e de Fragonard, seu aluno. Em
Boucher, os temas mitológicos associam-se às cenas galantes, como na famosa
Menina reclinada (1751). As cores delicadas e o erotismo do mestre encontram
ressonância no trabalho de Fragonard - O Balanço (1766), que explorou também as
paisagens e a pintura histórica. Nattier, principal retratista do período,
retoma, em clave um pouco distinta, a associação entre vida cortesã e temas
mitológicos, por exemplo em Mme. De Lamberc como Minerva (1737). Watteau,
pioneiro no interesse pelas festas campestres e pelas cenas teatrais, imprime à
pintura da época não apenas um repertório novo, como também um método
particular, que consiste em justapor pequenas manchas de tinta sobre a tela, no
que será seguido por Pater.
O estilo rococó se internacionaliza rapidamente pela Europa
Central, mas também pela Espanha e Portugal, adaptando-se a contextos muito
diversos. Chama a atenção nesse processo a sua penetração na arte religiosa,
contrariando uma origem ligada à nobreza e à vida mundana. A arquitetura
religiosa rococó, de fraco desenvolvimento na França, vai conhecer expressão
maior seja na região da Baviera, seja na zona portuguesa do Minho e logo depois
no Brasil. Nessas regiões, o estilo
sofre as influências do barroco italiano e das tradições autóctones, adquirindo
feições originais. No caso do Brasil, especificamente, observa-se a forte
penetração do rococó na arquitetura religiosa desde meados do século XVIII no
Rio de Janeiro, em diversas cidades mineiras (Ouro Preto, São João Del Rey,
Congonhas do Campo etc.), em Pernambuco, Paraíba e Belém.
A estética dos opostos marca a vida e a arte no período
Barroco com as maiores contradições: místico e religioso; cientista e sonhador;
dia e noite; carinho e açoite; frio e calor; raiva e amor; açúcar e sal; bem e
mal; sombra e luz; desespero e calma. Um período de contrastes e de ações que
tentam revelar os segredos da alma.
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