segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A arte de Jean-Honoré Fragonard no estilo Rococó: O Balanço (1766)

"Eu vivia num estado de tensão, à medida que fui conseguindo traduzir as emoções em imagens- isto é, à medida que fui descobrindo as imagens que se encontravam escondidas nas emoções- vi-me acalmado e seguro interiormente." C.G. Jung






O rococó é o estilo artístico que surgiu na França como desdobramento entre o barroco e o arcadismo, porém, bem mais leve e intimista que aquele usado inicialmente em decoração de interiores. O estilo desenvolveu-se na Europa do século XVIII, e da arquitetura disseminou-se para todas as artes. Um dos movimentos vigorosos da época até o advento da reação neoclássica por volta de 1770, quando se difundiu principalmente, na parte católica da Alemanha, na Prússia e em Portugal. 


O movimento rococó teria sido considerado por muitos, por ter adquirido características “profanas” uma variação vinda do barroco.  Esse movimento, ganha maior expressão a partir do momento em que houve a libertação dos temas religiosos, dos temas utilizados em cenas eróticas ou da vida cortesã tais como (as fêtes galantes). Havia uma farta estilização naturalista do mundo vegetal em ornatos e molduras além dos temas mitológicos, pastorais, com alusões ao teatro italiano da época. O termo (rococó) deriva do francês rocaille, [rocalha] que significa "embrechado", técnica de incrustação de conchas e fragmentos de vidros utilizados originariamente na decoração de jardins e grutas artificiais  que se populariza por analogia ao termo italiano barocco. 


Na França, o rococó é também chamado estilo Luís XV e Luís XVI. Há ainda, a expressão “época das Luzes”  na qual teve sua notoriedade, talvez pelo relativo apelo ao século de paz na Europa marcado pelo período de pós Revolução Americana de 1776 e logo em seguida, pela Revolução Francesa de 1789. No centro dos acontecimentos, a história surge agregando as artes, as formas e as expressões artísticas – o Século das Luzes, culminando com – a gramática estilística do Neoclassicismo, por dominação e criação dos artistas.


Jean-Honoré Fragonard (1732-1806) – e seu estilo de época do século XVIII europeu, o rococó. Um estilo que se desenvolve em meio às sutilezas de uma complexidade formal diante dos excessos do barroco, apelando para a leveza, graça e para os coloridos suaves. Os alemães se antecipam ao empregar o termo em sua acepção moderna de estilo artístico referindo-se à arquitetura e as artes ornamentais na segunda metade do século XIX, libertando-o assim do sentido pejorativo que o acompanha, desde a origem até o século XIX. Mas somente em 1943, com a obra clássica do historiador Fiske Kimball sobre o assunto, The Creation of the Rococo, que se fixam as origens do estilo na França em meados do século XVIII. A partir daí, o rococó deixa de ser visto como uma variante do barroco, passando a ser considerado um estilo autônomo, irredutível ao barroco e ao clássico.


Os historiadores da arte distinguem dois momentos do rococó. Um que vai de 1690 a 1730, o "estilo regência", marcado pelo rompimento com a rigidez arquitetônica do estilo Luís XIV, com a introdução de curvas flexíveis e de linhas mais soltas. Datam desse momento, as decorações de Pierre Lepautre (1660-1744), as gravuras e relevos de Jean Bérain a pintura de Jean-Antoine Watteau (1684-1721), pintor mais importante do período que imortaliza "as festas galantes" (por exemplo, Peregrinação à Ilha de Cítera, apresentada à Academia em 1717), gênero maior da pintura rococó. Os anos compreendidos entre 1730 e 1770 marcariam o rococó propriamente dito com a projeção de uma nova leva de artistas - Juste Aurèle Meissonnier (1695-1750), Nicolas Pineau (1684-1754), Jacques de Lajoue II (1687-1761), - que trabalham na remodelação das residências urbanas da nobreza e alta burguesia parisiense (os chamados hôtels), dotando-as de maior funcionalidade e conforto. Nesse sentido é que o estilo se desenvolve ligado à ornamentação de interiores, preferencialmente articulado às artes decorativas e ornamentais, boa parte delas consideradas menores, como o mobiliário, a tapeçaria, a porcelana e a ourivesaria.


Um exemplo característico do estilo na França pode ser encontrado no Salão Oval da Princesa do Hôtel Soubise de Paris (1738-1740). Na pintura, os nomes mais importantes dessa fase são François Boucher (1703-1770), Jean-Honoré Fragonard (1732-1806), Jean-Baptiste Pater (1695-1736) e Jean-Marc Nattier (1685-1766). Na escultura, Etienne Maurice Falconet (1716-1791) é considerado a expressão mais relevante do rococó, como atesta sua célebre Banhista (1757), e a estátua eqüestre de Pedro, o Grande, na antiga Leningrado, atual São Petersburgo.


Os traços mais salientes do estilo rococó relacionam-se ao uso das rocailles, que se combinam aos arabescos com linhas curvas em c ou s. As composições realizadas com extrema liberdade e fantasia mesclam a sinuosidade das linhas com motivos tirados da natureza: pássaros e pequenos animais, plantas e flores delicadas, formações rochosas, águas em cascata ou brotando do solo. Na arquitetura, sobretudo nos interiores, predominam os traçados sinuosos, as cores claras, o uso da luz (pelas janelas francesas que descem ao chão) e dos espelhos. O luxo da decoração interna tem o seu contraponto na simplicidade das fachadas externas dos edifícios. Ao redor de 1760, assistimos à retomada das tendências e repertórios clássicos, nas pilastras, medalhões e troféus que tomam conta das decorações. Enraizado culturalmente no século XVIII, o rococó liga-se à sociabilidade elegante do período, às modas e maneiras cotidianas que têm nos salões literários e artísticos expressão significativa. A polidez e a performance social que os salões evidenciam vêm acompanhadas da importância do luxo e refinamento (do espírito e do corpo). As artes, nesse contexto, ligam-se diretamente ao prazer e ao divertimento o que leva os estudiosos a falarem em um fundo hedonista presente nas mais diversas manifestações do rococó.


A vivacidade e alegria da vida cotidiana, além da frivolidade elegante da sociabilidade cortesã francesa, rondam também a pintura rococó, como exemplificam as telas de Boucher e de Fragonard, seu aluno. Em Boucher, os temas mitológicos associam-se às cenas galantes, como na famosa Menina reclinada (1751). As cores delicadas e o erotismo do mestre encontram ressonância no trabalho de Fragonard - O Balanço (1766), que explorou também as paisagens e a pintura histórica. Nattier, principal retratista do período, retoma, em clave um pouco distinta, a associação entre vida cortesã e temas mitológicos, por exemplo em Mme. De Lamberc como Minerva (1737). Watteau, pioneiro no interesse pelas festas campestres e pelas cenas teatrais, imprime à pintura da época não apenas um repertório novo, como também um método particular, que consiste em justapor pequenas manchas de tinta sobre a tela, no que será seguido por Pater.


O estilo rococó se internacionaliza rapidamente pela Europa Central, mas também pela Espanha e Portugal, adaptando-se a contextos muito diversos. Chama a atenção nesse processo a sua penetração na arte religiosa, contrariando uma origem ligada à nobreza e à vida mundana. A arquitetura religiosa rococó, de fraco desenvolvimento na França, vai conhecer expressão maior seja na região da Baviera, seja na zona portuguesa do Minho e logo depois no Brasil.  Nessas regiões, o estilo sofre as influências do barroco italiano e das tradições autóctones, adquirindo feições originais. No caso do Brasil, especificamente, observa-se a forte penetração do rococó na arquitetura religiosa desde meados do século XVIII no Rio de Janeiro, em diversas cidades mineiras (Ouro Preto, São João Del Rey, Congonhas do Campo etc.), em Pernambuco, Paraíba e Belém.


A estética dos opostos marca a vida e a arte no período Barroco com as maiores contradições: místico e religioso; cientista e sonhador; dia e noite; carinho e açoite; frio e calor; raiva e amor; açúcar e sal; bem e mal; sombra e luz; desespero e calma. Um período de contrastes e de ações que tentam revelar os segredos da alma.



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